Querida,
Escrevo-te esta missiva porque essa é a única forma que tenho para afagar as saudades. Sinto-te a ausência, dos caminhos e das divagações que, juntos, construíamos em silêncios sentidos e consentidos, para, depois, gerarmos corpos de solidão que buscavam vida até a exaustão, e que sem os seus consentimentos, deitávamos ao mundo das leituras. Gostávamos de lhe chamar destreza, ambos convencidos que essa era a nossa realidade.
Tenho saudades de ti! É verdade e de nada adianta ignorar, esconder ou fingir que não acontece, porque, em cada dia que desvanece, essa saudade cresce em mim.
Creio que já nem sei criar esses corpos de diversão, aglutinados pela solidão, que o tempo conseguiu parar. Perdi as sensações do prazer desmedido que essas criações ou corpos davam. E perdê-los é perder o tempo. É ficar amarrado ao passado e, por sequência, à memória.
Hoje, numa ânsia tresloucada, sem aviso, regressei, por momentos, ao passado, e criei este corpo ermo, não em busca de vida, mas para atenuar a sensação que referi.
Não te preocupes, que não terei muitas mais falhas como a de hoje, porque saberei resfriar os ímpetos como quem domina o inferno e nada teme.
Mas antes, antes de partir em definitivo, quero que saibas, quero que esse mundo das leituras também sinta que tudo que fiz foi por amor, com dedicação e muita alegria. Que inventei espaços, cenários e gigantescas emoções, mas sempre como uma personagem inserida naquela realidade dissimulada que acontecia perante o olhar de quem a queria viver.
Talvez um dia nos encontremos por ai, entre palavras por dizer ou frases por sentir, e brindemos aos bons velhos tempos.
Querida Escrita quero que saibas que foste, e serás sempre, o meu grande amor!
Para memória futura, 25 de Maio de 2010
Paulo Afonso Ramos