Ao longe oiço ainda a tua voz
Perdida entre ecos nesta escuridão
Recordando-me de quando éramos só nós
Partilhando o mesmo vazio da solidão
Distante crepúsculo desse dia mordaz
Em que partiste na busca do teu abrigo
Esquecendo que a mim deixavas para trás
Entre lágrimas mudas envoltas em bafio
Agora subsisto perdido neste mundo atroz
Onde espalho os pedaços de meu coração
Consumidos por uma triste ânsia feroz
Esperando um só afago quente de tua mão
Como numa inebriante demanda tenaz
Envolta em odor de efémero fustigo
Tenebroso sabor que nunca olvidarás
Aqui aguardarei pelo teu abraço amigo
António de Almeida