A imagem, a fama, o ridículo...
com a mesma ironia com que a vida
laureia autores inúteis ou pior :
ironia com que a sociedade iludida
homenageia um prefeito, um reitor
ou qualquer autoridade que o podre útero
da democracia nutre !
com essa mesma ironia
de enaltecer o fraco
o franco aproveitador ilustre
eu às vezes laureio meus cabelos
antes que a verdade ou a transparência
a perda deles custe;
eu às vezes sou autoagraciado
com um prêmio ou troféu
“Paraíso”, “Terra Prometida” ou “Céu”
que só pode dar-me a demência
e daí sou mais uma estrela
não dessas estrelas
que a televisão promove
mas a que à multidão comove
porque sou um profeta necessário
porque digo a verdade de maneira crua
arranco a roupa da Verdade
que pelada posa nua
na revista do Sucesso
com o cu virado para a lua
e nessas páginas de mídia
que ironicamente enaltecem o fraco
vejo outras cabeças, vejo a sua
e a minha e nelas : um buraco
porque somos antes de tudo
vazios porque a fama
ninguém a merece mais
que o trabalhador que sofre assaz
e nunca reclama :
a mãe que se sacrifica pelos filhos
dando-lhes o pão, o arroz,
o segredo de vencer e a cama...
A homenagem, a importância,
os holofotes, os destaques, os brilhos,
tantos a merecem que do lado de cá
das câmeras
haveria poucos fotógrafos e leitores
para tanta gente, o povo, os senhores
e eu arrisco dizer
que eu não tenho importância nenhuma
nem por ser profeta, nem por ser
verdadeiro, nem por dizer
à Verdade que suma
do país das aparências televisivas
para sempre,
pois que lá ela tenta
instituir o valor
que não têm esses metidos
da alta sociedade infértil
essa gente nojenta
que não trabalha – nem estão vivos
pois todos morrerão : um projétil
encontra alguém no primeiro sinal
– se alguém dispara a arma
é porque essa sociedade do Sucesso
esqueceu-se de distribuir o “sucesso”
aos que só têm fome, escabiose, fedor e sarna !
Úmero Card'Osso
Úmero Card'Osso