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o coração é casa de todas as memórias

 
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Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.

como ensinar-te nas mãos o fogo, o sangue no útero, a espera, como figurar a história de dois corpos que não existem longe. não sei agora, no preciso momento em que nos vejo - mãos dadas, olhos para dentro, corações de fora - não sei agora. podemos ir e vir por entre a lentidão das demandas, regressar como quem corre. regressar aos braços, aos ombros, aos peitos de pedra, mas ser de nós como antes não fôramos de ninguém. porque ninguém iria entender-te em mim como eu me endendo-te. saberia partir se me partisses, vigiar a loucura, de longe, não quero vender os meus sonhos por um grito. podes trazer a tua história às costas, enfiamo-la num mundo, um qualquer, dentro da nossa. quero que sejas tu como eu sou. sabes, quando fecho os olhos é pelos teus que vejo. eu sei que estás ferida, que em ti pousam corvos como abutres à espera de morte. se morresses hoje selava no teu corpo estes segredos, roubava-lhe a pele para com ela cobrir o meu, tirava-te o coração para ninguém to tirar primeiro. o coração é casa de todas as memórias, um sítio de pedra, uma voz que berra o futuro. como ensinar-te que sem ti o caudal não tem sentido. uma enxurrada de sal me ocupa o rosto. não há trajectos felizes, nem tempo ou espaço capaz de os inventar. não há. e no mar cresce o sargaço e a água, perde-se areia. queria de ti um mar novo, um mundo, outro. este não nos serve agora. visto-me de chuva e abraço. dentro todos os lugares que nos esperam -um barco, uma cabana, um espinho- fora o coração, o resto vazio. resta o silêncio envolto em nuvens de esperança, qualquer coisa como empurrar os móveis para a rés da casa e esperar que esta encolha até me caber no bolso. tenho uma casa para ti, uma muda de roupa, um sonho. quando vens.

 
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Caopoeta
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Enviado por Tópico
samanthabeduschi
Publicado: 24/05/2010 13:49  Atualizado: 24/05/2010 13:49
Da casa!
Usuário desde: 09/07/2009
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Mensagens: 426
 Re: o coração é casa de todas as memórias
"como figurar a história de dois corpos que não existem longe"
"mãos dadas, olhos para dentro, corações de fora"
"sabes, quando fecho os olhos é pelos teus que vejo"
"não quero vender os meus sonhos por um grito"
"queria de ti um mar novo, um mundo, outro. este não nos serve agora"
"tenho uma casa para ti, uma muda de roupa, um sonho. quando vens."

Uma belíssima carta de amor, com um convite irrecusável para amar. Overwhelming writing, simply overwhelming!

Beijos
Samantha