Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.
como ensinar-te nas mãos o fogo, o sangue no útero, a espera, como figurar a história de dois corpos que não existem longe. não sei agora, no preciso momento em que nos vejo - mãos dadas, olhos para dentro, corações de fora - não sei agora. podemos ir e vir por entre a lentidão das demandas, regressar como quem corre. regressar aos braços, aos ombros, aos peitos de pedra, mas ser de nós como antes não fôramos de ninguém. porque ninguém iria entender-te em mim como eu me endendo-te. saberia partir se me partisses, vigiar a loucura, de longe, não quero vender os meus sonhos por um grito. podes trazer a tua história às costas, enfiamo-la num mundo, um qualquer, dentro da nossa. quero que sejas tu como eu sou. sabes, quando fecho os olhos é pelos teus que vejo. eu sei que estás ferida, que em ti pousam corvos como abutres à espera de morte. se morresses hoje selava no teu corpo estes segredos, roubava-lhe a pele para com ela cobrir o meu, tirava-te o coração para ninguém to tirar primeiro. o coração é casa de todas as memórias, um sítio de pedra, uma voz que berra o futuro. como ensinar-te que sem ti o caudal não tem sentido. uma enxurrada de sal me ocupa o rosto. não há trajectos felizes, nem tempo ou espaço capaz de os inventar. não há. e no mar cresce o sargaço e a água, perde-se areia. queria de ti um mar novo, um mundo, outro. este não nos serve agora. visto-me de chuva e abraço. dentro todos os lugares que nos esperam -um barco, uma cabana, um espinho- fora o coração, o resto vazio. resta o silêncio envolto em nuvens de esperança, qualquer coisa como empurrar os móveis para a rés da casa e esperar que esta encolha até me caber no bolso. tenho uma casa para ti, uma muda de roupa, um sonho. quando vens.