De fato isso tudo aqui verdadeiramente me extasia: A natureza. Ainda mais agora que essa chuva vem cantarolar serena sua úmida canção, e que o verde dos campos e o matiz azul esverdeado das montanhas ao longe entram em profundo contraste com o acinzentado chumbo do céu nublado. É uma festa silenciosa onde eu, como convidado, presencio esse exuberante acontecimento. Há uma grande diferença da chuva na cidade. Lá ela banha nossas endurecidas ruas por onde correm as enxurradas de águas embrutecidas pela não realização de sua função maior de umedecer o âmago da terra e vão, a contragosto, escorrendo para as partes mais baixas levando consigo os resíduos que irão (como castigo) entupir os bueiros e provocar indesejados alagamentos. Aqui não. Aqui a drenagem se faz naturalmente e tudo é perfeito. Mesmo essa interminável torrente de águas é, por essas paragens, como uma criança inofensiva a brincar pela relva. Eu me deixo embalar pela chuva e pela exuberante imagem e já nem percebo quando me cai das mãos o livro amigo e quando adormeço, num misto de cansaço e preguiça, aspirando o doce e sagrado aroma da terra molhada.
Frederico Salvo