Desvencilhado daquelas duas tulipas,
Que nunca vi mais azuis,
Num instante de uma intensidade constante
Em meu mar de angústias e solidão
De minhas vontades esquecidas
De minha vida mal vivida...
Fiquei à deriva... Vagando
A “Deus dará"...
Não tinha mais um norte...
Fiquei sem recurso de manter um curso
Confiante, seguro...
Fora do meu rio. Somente tinha
O delta das mãos...
Sem astrolábio, sem Cruzeiro-do-Sul,
Sem constelação... Céu nu...
Carga hercúlea levava minha alma-nau.
Singrando perdida no olvido de minhas
Mais sinceras preferências e quimeras...
Sem esperança que brotasse daquelas
Gélidas águas ágatas dos meus inconsoláveis
Sofrimentos...
Vi! Velas Mil!
Todas tinham teu nome, em letras escarlates
Romanas, a fogo do sol furtado,
Com as mãos de todos os deuses,
Todas as letras... Teu nome cravado!
Vi! Velas Mil!
Todas tinham teu símbolo nelas pintado:
Uma rosa de tonalidade roxa trespassada
Por uma metálica espada...
Vinham Velas Mil!
Singrando velozes em um dos meus mares
Nunca dantes navegados...
Mar de ricas e sensíveis esferas
Repletos de sonhos;
Sonhos encantados nunca dantes
Sonhados...
No mais sofrido dos insaciáveis
Dos prazeres;
No acaso do incerto, do improvável,
Do impalpável...
Do “in" dentro do “in"...
De um assovio sinistro sem fim...
Ó,triste mar de angústia que me invade
O coração!
Mar de ressacas negras e espumantes,
Num indo e vindo desconfortante
Aqui... Dentro de mim!...
Prostrado mais uma vez estou!
Ressecados joelhos opalescentes
Roçando os pedregulhos do chão
De húmus humano!...
Olhos fixos e brilhantes no tardar
Do crepúsculo.
No curso eminente do sibérico
Rio gelado russo,
Com minhas mãos eternamente concheadas...
Mãos malhadas em minha face toda molhada...
Arrebatado foi o meu corpo do espaço mais
Que perfeito dos teus rios-braços...
Sonho toda noite contigo...
Minha alma toda roxa sem a tua fica tonta,
Se combate sozinha... Tortura-se...
Todas as minhas feridas se supuram...
Deixa-me na mais pura...
Sonolência...
Sonho contigo...
Mar de angústia e solidão,
Dedos entrelaçados... Voar juntos...
Peter Pan e Wendy...
Neverland...
Ah, pudesse eu sonhar contigo e fenecer
Dormindo num dia gostoso e suave de domingo!...
Sonhar!...
Todos os deuses nos assistindo,
Todos de nós rindo:
Osíris, Tupã, Odin, Jaci...
Voava eu você...
Passávamos sobre um arquipélago
Losângulo caqui...
Mãos dadas...
Só eu e você!
Penélope e Peri...
Gyl Ferrys