Se eu fosse valente
faria tudo de maneira diferente:
sairia pelas ruas a reclamar
dos atrasos
dos solavancos
dos mal tratos recebidos de Natal.
Valente,
um homem de força descomunal,
capaz de iludir o próprio cansaço
e sair do estádio de futebol,
rasgar a fantasia de carnaval,
afogar as garrafas de descanso dominical,
e reclamar.
E reclamar pelo direito de um dia ser valente
para reclamar da falta
do feriado nacional
do futebol-sensação
do carnaval-ilusão
de beber num cansaço sem final.
* Série de Poemas manuscritos nos anos 70, período da ditadura militar no Brasil, por um jovem poeta Anônimo.