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Para a posteridade

 
São imagens esbatidas, quase apagadas, como aquelas fotografias antigas que mantêm enclausurados os rostos de homens de bigode e ar severo de generais austeros, contrastando com os daquelas figuras frágeis das tias de alguém, com grossos colares de pérolas falsas ao pescoço e alfinetes dourados pregados no peito, de sorrisos mansos e dóceis como se estivessem a contemplar uma paisagem serena de um pôr de sol de Agosto... Pena é que aquelas molduras de metal sejam as grades de uma prisão perpétua da qual são os condenados vitalícios, ali imortalizados, lembrando aos que ficaram as suas passagens pela vida da qual há muito que se foram. Que se findou no dia em que se despediram do mundo dos vivos e que para ali ficaram esquecidos sob naperons de rosetas brancas só relembrados de quando em vez, por alturas das limpezas do pó. Ainda assim, conseguem manter a pose e permanecem orgulhosamente silenciosas e indiferentes ao relógio de pêndulo que as fita num desdém insolente lá do canto oposto da sala e cujos ponteiros há muito que passaram a rodar no sentido contrário, marcando as horas ao avesso do tempo... são rostos surdos e calados, que insistem em estar, permanecendo no presente por toda a eternidade que um simples momento conseguiu suspender no tempo e deixar para a posteridade.

*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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cleo
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MEA CULPA
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Enviado por Tópico
Karla Bardanza
Publicado: 20/06/2010 14:12  Atualizado: 20/06/2010 14:12
Colaborador
Usuário desde: 24/06/2007
Localidade:
Mensagens: 3263
 Re: Para a posteridade
Maravilhos texto Cleo.Levo-o comigo.

Karla Bardanza


Enviado por Tópico
Runa
Publicado: 20/06/2010 15:26  Atualizado: 20/06/2010 15:26
Colaborador
Usuário desde: 24/04/2010
Localidade: Santo Antonio Cavaleiros
Mensagens: 1174
 Re: Para a posteridade
Gostei da lucidez e clareza do teu texto, onde me fizeste sentir o cheiro a mofo da casa onde vivi minha infância e recordar uma foto dos meus avós, que nunca conheci a não ser ali, e que estava pendurada numa das paredes da sala, como uma presença fantasma que sempre me impôs respeito.

Beijos

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