Ensaio sobre a cegueira
(Análise crítica)
Maria José Limeira
O que mais se ressalta no filme “Ensaio sobre a cegueira”, de Fernando Meirelles, é que consegue manter-se como obra-prima, e como linguagem cinematográfica, sem nada a dever à criação original (o livro) de José Saramago.
Destarte, o livro é prolixo, não porque seja defeito dele ser prolixo, e sim porque a linguagem escrita é prolixa por natureza, a fim de se manter no diálogo com o leitor.
Já o filme é conciso, e é nessa concisão que reside o perigo de transpor uma história da literatura para o cinema: pode-se dizer tudo ou nada, sendo muito difícil ao diretor manter-se em equilíbrio entre a intenção primeira do autor do livro, e os contornos da linguagem cinematográfica.
Um livro é um livro, e, como tal, a obra de Saramago é incontestável.
Um filme é um filme, e, como tal, a obra de Meirelles é deslumbramento.
Ambos ligados pelos escaninhos da criação.
Outros diretores não conseguiram tanto na transposição de obras literárias para o cinema. Pouquíssimos o conseguiram sem desvirtuar a versão original da história.
Ao Meirelles, cabe esse merecimento.
Tanto isso é verdade que o próprio Saramago chorou de emoção ao assistir à primeira cópia, agradecendo ao cineasta a genialidade do filme.
Bem. É o cinema brasileiro de parabéns, e nós, cinéfilos, agradecemos.