APENAS UM TIJOLO
Autor: Carlos Henrique Rangel
No vazio do lote ocupado por matos, lixos e ratos, um tijolo perdido me lembra o passado...
O sobrado parece ressurgir do nada na tela de minha mente
e quase ouço as vozes da elite da terra em seus saraus restritos.
Nunca fui convidado porque não existia ainda para esse mundo de contrastes. Meu pai e minha mãe também não...
Mas a casa “bacana”nos fascinava pela beleza... Pelo que significava: beleza, riqueza, poder...
Depois o tempo, esse devastador de utopias, descorou sua tinta. Envelheceu seus moradores. Desfez a magia...
As massas em relevo de suas fachadas caíram deixando à mostra os tijolos comuns a todas as casas.
O telhado que cobria a riqueza fez água...
Por fim, o pedaço da história se foi...
A cidade continuou o seu caminho com a memória empobrecida...
Apenas um tijolo perdido me lembra o passado entre matos lixos e ratos.
A CASA INVISÍVEL
Autor: Carlos Henrique Rangel
Quando surgiu era linda... Para todos.
A sensação...
A casa mais importante por que importante eram os que a habitavam.
Viu saraus. Viu tramas e dramas.
Viu romances nascerem e se desfazerem...
Viu sonhos desfeitos...
Riquezas desfeitas... Nascimentos, doenças e mortes...
Viu movimentos, progressos, decadência...
E era vista: centro de atração.
Admirada.
Respeitada...
Amada... E odiada.
Depois desprezada, esquecida...
INVISÍVEL.
As casas vizinhas eram demolidas, substituídas.
Sobressaiam, mudavam, cresciam...
Ela... Invisível.
A rua mudava. Se poluía... A cidade crescia.
Ela:invisível.
O tempo que muda tudo transformou a casa linda em feia.
Maltratada, quebrada, abandonada, vazia.
Um dia alguém a viu ali perdida entre prédios visíveis.
Trocou suas janelas e portas,
E telhas,
E reboco.
E lhe pintou as paredes de cores vivas, berrantes, chocantes:
Um vermelho vivo e detalhes em dourado...
E a casa invisível apareceu de repente em seu esplendor.
Assustou os transeuntes que antes não a viam...
A viram então.
E curiosos a descobriram.
E sua história.
E sua glória.
Que era parte da história e da glória
da rua...
Da cidade...
De todos...