Na outra margem Lurdes
Na outra margem…
À margem de ti
Sem sal semeado no meu rosto
Sem memórias de súbitos esquecimentos
Sem lembranças indeléveis
Sem estradas ou marés impercorríveis
Vais no teu sereno e inconstante caminhar
Sem margens de mim e de ti
Dimensionas o rio como oceano
Afastas o horizonte da linha do meu olhar
Sem margens Lurdes
Sem margem para acostar
Sem margem para coisa nenhuma
Na margem de nenhures
Eu nunca regressei à tua margem
E era de papel e de brinquedo de menino o meu navio
E tudo era a sublime ignorância nas águas que nos moviam
E o navio era o baptismo do nosso amor
Ignoro agora qual o navio que aporta no teu cais
E já nem sei dos olhos que transbordam em outras margens
E só cuido de saber-te na margem da liberdade
Na rosa e no fruto
Na margem das fragrâncias ardentes da fome vermelha
Olvido as pontes que se possam percorrer
Refuto as margens sem rio de regresso
Conto margens
Em rios me liquefaço
E nem sei jamais
Por quantas margens se marginaliza o amor
Dionísio Dinis