Os pés pisam a areia molhada
a noite repleta de orvalhada
enregela o corpo sofrido
como doí, como está moído.
O altar está preste a esgotar
acende-se uma vela ao mar
reza-se ás marés em canto
lava-se as magoas no pranto.
ai choro de solidão
que não dobra o perdão
ai cólera de não se entender
porque temos tanto de padecer.
As luzes de um cargueiro
mostram o rosto do marinheiro
com lágrimas no olhar
caídas misturadas com o mar.
Como a onda beija a maré
o aflito roga alivio à sua fé
como dizer amor
sem molhar os lábios do seu sabor.
No cais fica a razão do viver
a saudade do padecer
as motivações do suportar
a solidão que mata mais que o mar.
@ Eduardo Jorge, em 4 de Maio de 2010