dedicado a Murilo Mendes(poeta mineiro).
Em suas feridas apostólicas
ardem estrofes catastróficas
na ceia sinistra
na pouca roupa de Madalena
na boca da Virgem Maria
na angústica de Lázaro
na imperfeição da cruz.
Em seu momento de morte
os anjos de seus versos retorcem-se
na agonia de carregar o poeta apocalíptico
às orgais celestiais e aos delírios divinos.
Murilo,
menino e mineiro
viu desde cedo as falhas da arquitetura divina
e nunca desprezou a fome de Deus.
Desembrulhou
a bandeira bíblica e mostrou as nódoas de lama
ao Senhor afogado em vinho e música.
Em seu olhar
refeito nas lembranças
fica a saudade nos que continuam
a rolar com uma moeda
nesse viver morrendo.
Murilo,
durma o seu sono merecido
que nós poeta e homens
continuaremos a bolinar na vagina sacra
antecipando a primavera de versos úmidos.
* Série de Poemas manuscritos nos anos 70, período da ditadura militar no Brasil, por um jovem poeta Anônimo (o nome não me foi dado conhecer à época).