anerom ahnim aninem, edno sáradna?
Lá no hospício ninguém sabia qual língua aquele homem falava.
anerom ad ahnim adiv... E continuava, repetindo aquilo tantas vezes que doíam os ouvidos dos pacientes que por ele passavam.
Uns achavam ser Tupi-Guarani, alguns médicos mais antigos tentavam entendê-lo em Latim. E o homem não parava... Assim foi o dia inteiro, do primeiro até o último instante quando dormia, ainda sim, murmúrios se ouviam: Ailisarb ed ahnim adama! adama ahnim... Como o homem insistia e ninguém podia ajudá-lo, resolveu então o diretor do manicômio, gravar tudo que o homem dizia.
Dia seguinte, pensando na possibilidade do paciente estar falando em alguma língua desconhecida, procurou logo pela manhã um amigo também psiquiatra que dominava para mais de dezesseis idiomas. Precisava ajudar aquele homem, só Deus sabia do conflito que lhe atormentava. Dois dias depois o amigo psiquiatra-poliglota chama o diretor e comenta que, dos idiomas que conhecia, aquelas palavras não se enquadravam em nenhum deles.
Lá no hospício, o homem atormentado se isolava de todos, não comia, não bebia, tão pouco manifestava alguma reação. Simplesmente ficava olhando para o teto, às vezes, para o nada e aquelas palavras desconhecidas, não paravam de incomodar a todos. Os pacientes a cada dia mais agressivos, impacientes com aqueles lamentos incomprendidos; Anerom euqrop em etsanodnaba?
Ahnim anerom, atnauq adaduas...Aciré, Atnauq adaduas!
O diretor sem mais ter o que fazer, procura outro amigo, desta vez, um padre que como seu amigo psiquiatra, também poliglota e estudioso das mais variadas religiões. Uma pessoa que independente da religiosidade era profundo conhecedor do misticismo, estudioso de várias seitas.
Ao amigo padre, relatou todo o acontecimento, explicando que não sabia mais o que fazer para ajudar aquele homem, parecia estar atormentado e falava numa língua que até então ninguém soube identificar. Deixou com o amigo a fita gravada. Dia seguinte agoniado com a situação, entra igreja adentro e vai logo perguntando: Que língua é essa que esse homem fala?
Com um brando sorriso e batendo-lhe nas costas, o padre diz: É a língua mágica do (Roma). É a língua do (Amor). E onde se fala isso, na Itália? Não meu amigo, em todos os lugares, mas, só podem entendê-la os que sofrem por feridas abertas, os que sangram noite e dia. Ouça com a profundidade de sua alma, senti o som doído de quem sofre da dor de partida de um amor ou quem sabe, a dor de algum amor proibido.
E a gravação colocada em tom alto, na sala gritava...
ahnim anerom ana, edno sáradna? Como pode você não conhecer? Pergunta o padre, mas não se julgue incapaz, eu mesmo não conheci as palavras, até o momento que resolvi ouvir a fita de trás para frente. É a língua dos loucos meu amigo, Os loucos de (Roma), os loucos de (amoR)!
Algumas vezes, o sofrimento é tanto, que eles transmitem seus sentimentos, em (cérebros ponta cabeça). Veja, escute a fita do final para o começo e a voz sofrida do homem gritava:
Minha menina morena, por onde andarás?