Perdoa, tu que juras-te!
Perdoa, tu que és Flor!
Tu que juras-te fazer correr
Pelo meu rosto as tuas lágrimas
Perdoa-os que não sabem o que dizem!
E choro hoje mais do que ontem
Por ver tanto Kant julgar pensar
Ou tanta Pessoa julgar escrever
E vejo que nenhum deles aperta ao seu peito hipotético
Nem um sonho como Álvaro pôde apertar.
Pois ser poeta é ser tudo o que dizes - Flor
É sentado numa poltrona de uma cor por definir
Abrir janelas do seu quarto, abri suas janelas
E voar!
Voar apertando todo o mundo de uma só poltrona
Chorar toda a tristeza, num só sorriso
Matar a morte, numa só linha
Com um único tiro preciso!
De um tiro certeiro
Fazer de si infinito
Com um verso imperfeito
Agarrar o mundo num só grito!
Viver assim para sempre
De um jeito meio escrito
E de outro não dito
É ser tristemente infeliz
Por todos os defeitos do mundo carregar
Na pele de embaixatriz
Daqueles que não sabem parar de pensar
É ser Flor que vinga num jardim empestado
Por uma corrente de fumo sem Fado
É ser tu, é voar sobre o Tejo e o Sado
É ser anjo alado!