Homem com ressaca
A praia deserta
Uma agressão mútua conduz o casal ao júri
Naquela tarde o tubarão não veio
Apenas as ondas e a lembrança da carnificina
Amanhã tem que encarar a fila do desemprego
Num banco cheio de engravatados
E cofres abarrotados
Frente a uma placa de “não há vagas”
É um epitáfio em letras garrafais
Subir o morro e ver a fome dos meninos
A alucinação dos jovens com as narinas assadas do “pó”
Deixando sobrar os resquícios das folhas andinas
Os helicópteros de São Paulo monitorando desditas
O glamour de Copacabana
Camuflando a miséria humana
A criatura sob o cobertor imundo não fala
Não diz por que sua casa é a marquise
Seu mundo é qualquer calçada
A tpm é incompreensível
Pelo marido, ignorada pelo amante
Mata, morre e esbanja
O capital economizado ontem
Alimenta as Bolsas de Valores do mundo.
JOEL DE SÁ
10-05-10.