O dia da festa!
(Um género de crónica)
Hoje é o dia da festa. Em Lisboa, pelo país e no resto do mundo. Tão simples e bonito. Há espaços reservados à espera da hora, há pessoas contentes e uma chuva tímida a querer molhar os transeuntes das emoções.
O encarnado impera. Os relógios vêm os ponteiros pressionados para correrem no tempo, em vez do habitual andar dos segundos. Há sardinha e muita pinga! Hoje é o dia da consagração. Já não é só o mar que é vermelho, nem o partido da oposição. Hoje dá-se, em definitivo, a fusão entre o encarnado e o vermelho, sejam homens ou mulheres. Porque hoje tudo é permitido. Vale até relembrar o 25 de Abril que tanta liberdade nos trouxe!
Que se esqueça a vinda do Papá, que ninguém se lembre da crise e que se esqueça o desemprego que aumenta como uma locomotiva louca em desgoverno. Se hoje é o dia do futebol, que importa isso? Que importa, o que quer que seja, se hoje é o dia do meu clube ganhar o campeonato nacional de futebol! Não sei se haverá amanhã, mas se houver continuaremos em festa e convidaremos o sol para abrilhantar o dia, falaremos com os amigos da fanfarra e com os vendedores dos couratos e da bela cerveja para virem assentar praça pelos caminhos que outrora foram tortuosos e nos faziam caminhar para o trabalho. Eles garantirão a bela comidinha e a música a preceito para a ocasião.
Trabalho? Hoje, amanhã e até não sei quando, ninguém trabalha, porque o país parou. Perdoe-me os pobres, que somos todos, mas hoje só os pobres e os agentes da segurança é que trabalham. Talvez os loucos das artes também trabalhem, afinal e preciso animar o país, que, quer queira ou não, também está em festa, seja porque é do nosso clube ou porque apenas é proibido recusar uma gigantesca festa!
E com tanta comemoração, com tanta folia e até falta de moderação, quem sabe se a crise não se assusta e se instala no país vizinho, (e não faz mal se já lá está, porque hoje ninguém vai querer saber disso) que leve o desemprego e as outras primas, sejam a inflação ou a recessão, mas que as leve. E já agora, como ainda não temos o TGV podem ir a pé, como quem paga uma promessa até Fátima, mas parem só em Espanha. Vão devagarinho para que na despedida de Portugal possam saborear, em cada local que passem, o bom viver português. Os bailaricos, coma tradicional música portuguesa, pela noite fora, o bom tinto nacional e a bela sardinha que já se pesca temperada com um óleo especial made in BP. Gozem muito, gozem a bom gozar que nunca se sabe quando esta folia irá voltar. E com tanta comemoração, com tantas pressões públicas e encobertas, sobre os ponteiros do relógio, com tantas buzinas a denunciar o novo hino do imperador, até me esqueci de perguntar: Sei que assustamos a crise, mas quem foi o campeão?
Domingo, 9 de Maio de 2010
Eduardo Montepuez