Fartei de esperar incessantemente
Por algo que espero não encontrar
Vivo um momento frustrado
Por saber que tal desejo não se possa realizar
Temo a multidão ardente
Que grita na escuridão
Temo mais o mendigo prudente
Que me veio estender a mão
Temo a fome de saber
Que vive num paradoxo ancestral
Vivo vivendo o poder
Do repugno d'uma vida banal
Seduzo trechos cantarolados
Por um rouxinol mudo
Que cantam num tom agudo
E eu atentamente os ouço
Eu que nasci surdo
E amo ouvir cantar
O rouxinol mudo
Deduzo que perdi o espírito
Numa qualquer religião
Onde me ensinou
A cantar tão bela canção
Fiz-me de novo um moço brincado
Saltitando de bola na mão
Brinco com o sonho prostrado
De colocar o mundo em meu coração
Fiz de mim servo de prazer
Fiz de mim servente de dor
Fiz por pensar e não fazer
Fi-lo por amor
Amei saber que o fiz
Deveras que amei
Não podia ser mais feliz
Do que aquele momento em que sonhei!