Poemas : 

De morte se morre aos pés de um verdugo

 
O feroz, de machado nas mãos,
Apresenta-se como algoz
Aos meus e teus irmãos
Que, imóveis por medo atroz,
Se sentaram ao lado de um cesto de cabeças...
E muitas lá estavam com olhos, línguas e tranças
Tão inertes como a inércia das lembranças.

O feroz, de peito feito
Impõe-se sem voz
E com movimento de respeito,
À urgência de afastar o nós do vós...
Nós de forma decepada ou pendente
Vós de forma rainha ou importante.

Olhos e olhos esbugalhados
E cordas vocais a saltar aos molhos
Lá vão agraciando todos os decepados
Com desconcertados urros,
Achaques do fundo dos curros,
Ou atropelos atirados aos murros...
Enfim, tudo o que chega de todos os lados.

E assim
Morram, morram, morram
Que de morrer se faz a vida plebeia,
Cheia, cheiinha de mórbida vontade feia
Chegada em orlas com fins de negro.

Valdevinoxis


A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 07/05/2010 22:24  Atualizado: 07/05/2010 22:24
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: De morte se morre aos pés de um verdugo
Um poema complexo, mas normalmente não me é muito fácil ler-te, o que me deixa sempre com vontade de ler mais e aprender.
Este poema faz-me lembrar revoluções e revoltas... Mas pede mais leitura.

Beijo(s)

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/05/2010 12:49  Atualizado: 08/05/2010 12:49
 Re: De morte se morre aos pés de um verdugo
Esta «coisa trágica» que acompanha o que escreves, que muitas vezes embala epopeias, apesar de adensar muitas vezes os teus versos, tem o dom de sempre transportar o leitor para um outro tempo, «de coisas repetidas».
Há sempre uma moral a descobrir nos teus textos, que escapa à moralidade pura por ser sempre pertinente.
Um abraço Manel.