Crónicas : 

Pura Mentira

 
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Simplesmente não aguente viver de frases que alimentam a solidão de um ser repleto de magia que vive para descobrir que tudo o que descobriu foi em vão pois toda verdade cabe numa caixa tão pequena e inútil que foi jogada ao mar e por coincidência um rapaz que dava os primeiros pontapés na leitura conseguiu distinguir no rótulo já extraviado duas palavras:
PURA MENTIRA
Esse rapaz abriu a caixa e por segundos deixou de dislumbrar seja o que for pois tinha ficado ofuscado. Após recompor-se, o rapaz, que havia ficado estendido, ergue-se, apanha a pipa com que havia vindo brincar e lança-a ao ar.
A criança parecia muito concentrada no seu jogo infantil, no entanto parecia que a sua habilidade prometia futuro. Ao fim de algum tempo outras crianças juntam-se ao rapaz, numa alegria contagiante, ao ver tantas pipas de formatos diferentes.
Ao cair da noite a aldeia encontrava-se em alvoroço, pois as crianças ainda não haviam regressado, foi então que um show de luzes se ergue no ar, e os habitantes apavorados e receosos correm nessa direcção, em busca dos filhos. Os aldeões ficaram deslumbrados com o que viam.
Uma verdadeira batalha nos céus, luzes e trovões incandescentes, sons de armas e torpedos, a desfilarem pelos céus. Estrelas e cometas vagueavam por entre os destroços dos navios comandados por guerreiros famosos que estavam dominados pela sabedoria de mentes tão diminutas como as de camponeses ou sem abrigos. Armas nucleares a vergarem-se ao som de varas ancestrais...
Acordei sobressaltado nessa noite, “que sonho mais ridiculo!”, pensei. E no entanto sabia que...
Ia eu a caminho da escola quando me deparei com um parque Infantil, por instinto, sentei-me num banco num canto abrigado por uma árvore, e fiquei um breve momento a observar. O sol ja abranjia todo o parque excepto a zona de sombra que o imponente escorrega marca no centro do parque, e este canto onde eu me encontrava sentado.
Três crianças subiam e desciam o escorrega, repetidamente formando a volta dele quase como um ritual, em que as suas feições não enganavam, por momentos a felicidade pertencia-lhes.
Duas meninas estavam sentadas ao pé da caixa de areia. Tinham cada uma a sua mochila, de dentro tiravam escovas, pentes estojos pequeníssimos de maquilhagem. Reparei que estavam espalhadas a sua volta meia duzia de bonecas de várias cores e feitios.
E no entanto, nada disso me chamou a atenção, como o meu lugar preferido do parque – os baloiços. Era bem perto do lugar onde eu me encontrava sentado, que se encontrava o lugar mais encantador, a meu ver, de um parque infantil.
Havia dois lugares. Uma criança ocupava um deles, o outro encontrava-se vazio. Por dois segundos a minha mente focou o céu azul, pois era nessa direcção que os olhos fascinados da criança se lançavam, num acto tão desesperado, que deu-me a sensação de a ver voar.
Tudo isso ocupou a minha mente por pouco tempo, pois por todo o meu corpo, senti um impolso e dei por mim a dirigir-me ao baloiço vazio.
Já depois de sentado, o rapaz fixou o seu olhar no meu rosto. Senti-me diminuto por momentos! E foi então que o rapaz me perguntou, numa voz que me transmitiu segurança: “O que é Verdade?”
Eu aí soube. Que o sonho não havia sido tão ridículo quanto isso, que eu não duvidava assim tanto dele. E subretudo, que o sonho era a Verdade. Pois só o rapaz podia abrir a caixa e só o rapaz, podia dar a resposta... “Tu és a Verdade, não a procures, nem a fabriques! Pois a questão é a resposta e a resposta é a questão.”
As crianças, são a Verdade mais pura do Mundo. Pois a nelas poucas Verdades foram depositadas, e assim a mente fluí com mais facilidade... Pense nisto!

 
Autor
Rui_Valdemar
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/05/2010 19:58  Atualizado: 07/05/2010 19:58
 Re: Pura Mentira
Belo texto, conceito exclentemente bem escrito, parabéns!