A noite trás o sussurro inebriado
Trás o roçar da pele na mão cansada
Vislumbra-se o sol que está de abalada
A sombra aproxima-se da porta fechada
Ao fundo da rua, uma guitarra pasmada
Toca um acorde de um fado vadio
As mãos do fadista viram corrupio
Soa a sua voz presa por um fio
É triste a mensagem que canta a desgraça
Fala de algo, lá atrás no passado
De uma Severa, que é serva de um fado
De um Marceneiro, que morava ao lado
De um fado castiço, uma Madragoa
Uma ruela escura no Senhor Roubado
Uma taberna suja no Bairro Alto
Uma mulher que chora pelo seu amado
Fala de um xaile estendido, prós lados de Alcântara
Uma menina Lisboa, tão bem que ela canta
Fala do Tejo numa canoa
Ai, menina rabina, é a Madragoa
Ao fundo da rua nasceu o fado
De uma mãe varina, de um pai estivador
Olho-te Lisboa e recordo o amor
Um parto apressado sem grito ou dor
Nas ruelas cheias de uma luz amarela
Olho-te Lisboa pela passerelle
De uma avenida que é liberdade
Encho o peito de vasta vaidade
Canto-te Lisboa cidade de luz
De poetas e fadistas, de um credo em cruz
Nas bocas gravadas pelo amor que seduz
Uma mulher que chora, vista a contra luz
É seu nome Maria
Maria sem rosto
Recordo que sofria
Cantando com gosto.
Antónia Ruivo
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Era tão fácil a poesia evoluir, era deixa-la solta pelas valetas onde os cantoneiros a pudessem podar, sachar, dilacerar, sem que o poeta ficasse susceptibilizado.
Duas caras da mesma moeda:
Poetamaldito e seu apêndice ´´Zulmira´´
Julia_Soares u...