A vida é arte. Com todas a suas divisões mas não passa disso. Perspectivas eficazmente vulneráveis a um sopro de outrem, e fortemente flexíveis ao desdém que se prestam entre si.
Vendo-nos como escultores, e a vida como nossa carreira. É uma forma profunda de encarar o nosso legado.
Vejo-me em cem anos, a ler numa autobiografia nunca escrita; e para além de recordar os meus mais belos momentos, posso ver as minhas impressões digitais na cena do crime.
Assim depois de ser vencido pela morte, sei com mérito, e posso afirmá-lo; que, de modo certo irei acordar uma certa manhã e poderei vislumbrar a escultura que me levou uma vida a delegar. Aí estarei nas mãos de outrem, de vós mundo cruel, que me julgou, e ditará agora se existe ou não magnificência nessa escultura. Poderei então confirmar se havia morrido ali, ou pelo contrário, se o meu legado me havia superado!
Vivo hoje destes versos que escrevo, e destas linhas onde minto. Pois quando os procuro roubar á melancolia mais profunda, descubro o fim e temo o intermédio.
Vejo-me como uma varina que trabalha pelo sonho, e vive o pesadelo. E como ela em cima do palco sou rameira, e nos bastidores actriz; mas no camarote sonho, e aí sou feliz.
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