Poemas : 

Nem sequer dos gestos

 
Nem sequer dos gestos,
nem sequer dos actos a esvoaçarem-se libertinos
em asas aprisionadas de ternura e de pureza

… na incerteza

do corpo em cada ponto, preso,
ao cais de um porto epistémico em si.

No soporoso brado,
num Si de dor, num Si Maior,
dum projecto de destino, retomado
na grandeza delgada da partida.

Fugitiva, a aragem da tarde estarrecida
no amarelo dos teus dedos de cigarros.

Abocanhada, a alma,
na carne testamentária, numa rota de fado
e no brocado loiro do prado azul
a pulsar em arames farpados.

Repousas em chamas, nos olhos vítreos
de uma verdade desigualada onde descansam
agora os sonhos, projectados em espelhos de pudor.
Aos teus sonhos, embaciados em febres rubras e suor.

Dormes, vivendo e partes, assim!


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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 26/07/2007 21:31  Atualizado: 26/07/2007 21:31
 Re: Nem sequer dos gestos p M de Carvalho
Poema introspectivo, em passagens bastantes poéticas e surreais. Lembrou-me algumas paragens em tom africanista (tema muito bem desenvolvido pela autora).
Saudações, Godi.

Enviado por Tópico
Tytta
Publicado: 26/07/2007 22:56  Atualizado: 26/07/2007 22:56
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 Re: Nem sequer dos gestos
Doce Mel,
quantos não são os que deixam os dias, as tardes passarem assim "Fugitiva, a aragem da tarde estarrecida no amarelo dos teus dedos de cigarros."
Adorei!
Jinhos, Tytta

Enviado por Tópico
Carla Costeira
Publicado: 26/07/2007 23:19  Atualizado: 26/07/2007 23:19
Colaborador
Usuário desde: 16/02/2007
Localidade: Sintra
Mensagens: 918
 Re: Nem sequer dos gestos
Mais um dos teus belos poemas doce Mel.

1001 Beijinhos para ti amiga!!!

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/07/2007 13:44  Atualizado: 27/07/2007 13:46
 Re: Nem sequer dos gestos
"No soporoso brado,
num Si de dor, num Si Maior,
dum projecto de destino, retomado
na grandeza delgada da partida."

leio-te no pulsar dos "arames farpados", mesmo...
Entras-me na carne numa espécie de realismo fantástico, que por um lado é coisa su-real, por outro doce e real fantasia...
A tua escrita vive no arame, farpado, se quiseres, os opostos atraem-se como um iman e projectas-te num espelho, que é a outra parte de ti, ponto de partida e chegada das tuas palavras:

"do corpo em cada ponto, preso,
ao cais de um porto epistémico em si."

Leio-te com "dedos amarelos de cigarros" a marcarem o tempo e a minha demora em ti.
Teu, josé.