Quem não dança chispa daqui!!! - João Carcule
Gosta de dançar? Então é com você mesmo que eu estou falando!!!!
Lá longe no sertão de meu Deus os bailes eram famosos, vinha gente de longe de até duas léguas, para você leitor 12 Km não é muito, porque na cidade se vai de carro ou de moto e até de bicicleta, mas lá no sertão o pessoal percorria no pesão. Imagine 12Km para ir, mais uns 5km dançando e mais 12km de volta. Haja força física e vontade de festar e dançar. Ainda não estou nem falando das canjibrina que tomavam a noite inteira!
Certa feita meu tio foi com o meu pai em um desses baile. Arrearam dois burros. Um chamava-se Bonito e o outro Três Peidos. O primeiro era garboso, viril, andava feito cavalo manga larga, pescoço para cima com até certa prepotência, o segundo já mais velho já contava ele com muitos peidos de existência, já contava também, sem saber, com uma participação efetiva na destruição na atmosfera, da nem sonhada e nem falada, na época, a hoje tão famosa camada de ozônio. Olha leitor, cá entre nós, este animal merece um capítulo à parte!!!
E vamos nós nesta empreitada. No sítio do meu pai já começava a história. O meu Tio João, enquanto o meu pai tomava banho, no rio, lá não havia banheiro, foi buscar os dois burros no pasto. Fato corriqueiro se não fosse com o meu tio. Não é que errou o burro, pegou outro e botou o cabresto na cara do animal. Resignado, o animal não esboçou reação. Porém quando ele pulou no pelo do animal, o bicho estranhou e deu dois pulos e lá foi o velho pelo meio do capinzal. Levantou-se, olhou para o burro bem firme, com cara de mau. O outro lado olhou até sem entender e continuou estático. O cavaleiro subiu de novo e lá se foi, depois de mais dois pulos, de barriga no meio do mato. Levantou-se desta vez puto da vida. Xingou o burro até a sua ultima geração, fez ameaças e grudou na crina do animal e pulou em cima, e esperou! A principio o burro nem se mexeu, parecia ter entendido as ameaças, entretanto na hora que o cavaleiro apertou os dois calcanhares na barriga da fera, ela mostrou o seu lado vingativo, sapecou-lhe mais três pulos e no quatro meu tio já tinha batido de novo a lona.
Nessa altura da história, o meu pai já estava depois do banho e viu a cena e ria de fazer gosto. Gritou para ele que o animal não era o burro, era uma mula rescem-adquirida e não tinha sido domada ainda. Como cavalheiro que era rendeu as homenagem ao animal e pegou os dois burros certos e carpiu no casco. Foram para casa.
A minha avó já estava com a comida pronta. Era próximo do entardecer. Na mesa tinha um travessa de madeira com um virado de ovo batido e na outra vasilha uma salada de tomate. O tomate perdia na cor para a pele do meu tio quando o meu pai contou aos demais o ocorrido. Depois de comer tomate da mesa, só ficou, no rosto, o vermelho da vergonha do cavaleiro. Voltou cor normal em questão de segundo, o vermelho do rosto se distribuíra na veia e as coisas balancearam e entraram no prumo. Seguiram viagem.
Questão de duas horas já estavam no arraial. Havia um barracão enfeitado com folha de bananeira recortada em forma de bandeirinha amarelada, cor adquirida no forno de assar biscoito. Ao lado do barracão um boi, atravessado por um eucalipto, cheio de frango estava sendo assado, sobre duas forquilha, em um fogo pesado. Olharam aqui acolá e foram para o salão de baile. Nesse particular, o baile é uma caso a parte. Para que o leitor tenha uma ideia vou discorrer sobre o modo feito. Mas antes, se você quiser tomar um suco, ou um refrigerante dá tempo, eu espero. Afinal a minha história só existe, porque você está aí e você lê! E ela foi escrita para você! Sabia dessa sua importância? Eu já desconfiava. Desculpe da vergonha que passei por fazer pergunta besta! O respeito é bom e tem de ser preservado! Certo!
Vamos ao baile! Meu tio largou o meu pai tocando violão com a rapaziada e foi ao salão. Lotadíssimo!! Pediu licença daqui e dali chegou ao mestre do salão. Sim Mestre do salão! Lá por aquelas bandas era costume ter alguém mais velho indicando com quem você iria dançar. Tinha que avisá-lo. Então este senhor localizava no meio das mulheres uma para dançar com o candidato. Era inúmeros os que queria, então demorava para chegar a sua vez, e você nem imagina quem seria a sua parceira na dança. o sanfoneiro terminava uma música e já completava com outra. Era um batidão de uma hora, em média, cada seleção. Imagine a gente pegar uma dama ruim de dança! Agora imagine se fosse feia, o castigo seria em dobro! No arrazoar da contenda, conforme diminuía a beleza aumentava o castigo!
Enquanto demorava para aparecer a figurfina, ele saiu dar um bisbilhotada em volta da casa. Não demorou muito viu no beiral da casa alguns queijos frescos a secar. Olhou de todos os lados e surripiou um. Colocou por debaixo do braço, por baixo do casacão e saiu com quem nem estivesse ali. Eis que, quando sem esperar, o Mestre o puxou pelo braço e apresentou-lhe a dama. Arrepiou-se todo. Como dançaria? Não podia dispensar a moça (moça! aqui vai como elogio, mas já era avó, percebia-se pelos sulcos de rugas no rosto). Mulher do sítio casa na flor da idade , novinha, novinha de vez, bastou aprendeu a fritar alguns ovos, já está habilitada a vestir um vestido de noiva e aumentar a população deste mundo de meu Deus. Em media , a idade não passa de 13 a 17 anos e lá pelos trinta principia a ser avó.
Meu tio olhou para o céu pediu forças ao santos e foi para o sacrifício. Colocou a mão direita na cintura da moça e a com mão esquerda pegou na mão dela e debulhou a bota no chão! Entretanto era imperativo que não levantasse em demasia o braço, porque despencaria o queijo atolado no sovaco. Conforme o balanço da música tocada, ele foi se obrigando a usar uma tensão maior do braço sobre o tórax. O queijo? Coitado! Estava mais para desodorante em pasta do que elemento de lacticínio, deveria sentir, naquele momento, saudade da ubre da vaca. E cada vez mais o que queijo se amassava, dava demonstração de não aguentar tanto a catinga do sovaco como a aperto da dança. A única opção foi cair. Quem sabe a sorte lhe sorriria?
A cena foi engraçada. E foi bom que isso acontecesse. Imagine leitor quem comeria o queijo depois de tanta esfregação. Só mesmo um bêbado, certo leitor? Nem mesmo um cachorro se atreveria a tal façanha!! O inevitável sucedeu, o queijo foi caindo e ele se torcendo todo para que não acontecesse, parecia um contorcionista num circo de primeira linha. A dama então admirou-se toda foi como tivesse vendo e dançado um novo tipo de dança. Sentia-se uma amadora perante um artista do bailado. Não houve jeito, o queijo caiu e o pessoal sem ver, foram amassando o coitado no meio do salão. O meu tio aproveitou os passos da dança e saiu para o outro lado e nem olhou a neve branca em pedaços pelo chão e nem os participante viram e se viram nem ligaram, só sei que seguiram em frente e na dança.
João Carcule se desvencilhou da obrigação de dançar e procurou o meu pai no meio da cantoria. Lá tomou alguns goles, cantou desafinados em algumas músicas e completou o tanque com os demais goles. Lá pelas tantas, já de bule cheio de canjibrinas, resolveram voltar. foram buscar a condução no estacionamento do pasto. Depois de alguns tombos e de culparem a pipoca da festa pelos tropeços e tombadas, puxaram os burros até a saída. Nesse ínterim, o meu tio, pendendo para cá e para lá, foi fazer xixi, virou as costa para o animal retirou o pingolim para fora e mandou água na guanxuma. O que ele não sabia e que o animal iria aprontar com ele. Dito e feito o burro deu uma cabeçada no seu traseiro e para não caiu de mal jeito, largou a mangueirinha para acudir-se no tombo. O pingolim entrou para dentro da calça e fez uma sopa, foi um estrago sensacional. Incontinência urinaria abrupta foi o diagnóstico dado pelo meu pai assim no repente. Ensopou o coitado.
Avexados, os dois subiram no cavalo, tiraram o chapéu em respeito aos demais e , de despedida, sumiram de volta para casa!!! No caminho vieram conversando, conversando e conversando, quer saber de uma coisa leitor? Chega de prosa!!! Por hoje é só leitor! Você está dispensado e pode até, se quiser, dormir! Amanhã estaremos aqui!!! Um abraço e até outro capítulo.
(Santiago Derin)
Exercitar a leitura é alimentar o intelecto!!!