UM NOVO HOMEM
Dá pelo nome de democracia, mas acho que o não é ainda. Será como o Caminho do autor espanhol quando diz que este se faz caminhando. Mas é urgente acelerar o passo. Para já somos todos democratas, ninguém ousando dizer que o não é. Por muitas que são as considerações a fazer neste plano, eu limito-me hoje a ponderar um aspecto que reflecte a nossa pequenez de mentalidade: - se entre nós, nas ultimas gerações, tem havido um deus, esse deus é o dinheiro. O que importa é arrebanha-lo não importa por que meios, mas em que a alta corrupção ocupa lugar de destaque; importa sim é dar o espectáculo que ele proporciona: mansões, carros topo de gama, férias distribuídas durante o ano entre as Fiji e as Seicheles, aquecidas por um sol que decerto não é o nosso.
Sim o dinheiro entra a rodos, desonestamente no bolso de uns tantos que são muitos. Este é um problema. Mas, sejamos muito concretos: a questão séria com que o nosso País se confronta é mais ampla e por isso não se resolve com o derrube dos acumuladores de fortunas mas reclama, (permito-me frisá-lo bem) o sacrifício de todos nós. Realço este aspecto por não compreender que no tempo de crise que vivemos haja sectores da classe média e de relativa estabilidade nas suas funções, que são os que vêm manifestar-se, exigir mais, com o beneplácito das organizações sindicais, porque o que lhes importa é arrebanhar subscritores. Queiramos ou não, seja-nos ou não amargo, a resolução do problema passa pelo bolso de todos nós, poupando-se, obviamente aqueles que são efectivamente carenciados.
A propósito do deus-dinheiro (insisto na alta corrupção e afinal na corrupção a todos os níveis), apetece-me fazer um apelo que sei ser uma utopia: surja alguém com autoridade capaz de fazer desabrochar uma mentalidade nova (chame-se-lhe de revolucionária) a de que fazer do dinheiro um deus é absurdo e por isso fazer dele o grande objectivo das nossas vidas absurdo é.
Insistindo na utopia, quero dizer que será, terá de ser salutar fazer nascer, desabrochar, ganhar raízes uma sociedade onde impere a sobriedade, a simplicidade, o redescobrir daquilo que é verdadeiramente importante e que passa por valores que todos nós conhecemos e estão ao nosso alcance.
Termino a pensar com muita preocupação nos desempregados (que o são de facto), na juventude que acabados os seus cursos vê o seu sonho cair por terra, afinal naqueles para quem as ditas manifestações seriam de aceitar. Sempre como último recurso, claro. Em suma: lutemos com determinação por uma sociedade nova, nascida de uma nova mentalidade, em que os muito ricos e os que ganham ordenados escandalosos, em vez de disso se orgulharem, terem vergonha. Parece utópico, mas é civilizacional…
antonius