Vai manda pra dentro
Nem sabe o que é
Mas vai que vai!
Deus deu a mão
Ela quis o braço todo
Vai vai enfia o silicone
E depois não pode mais abraçar forte!
Açúcar engorda
Mete adoçante então
A gripe é pandêmica
Mete a agulha na veia!
Me salvem
Socorro bradam
Berram ajuda ajuda!
Não sabemos mais pensar
Temos as vistas turvas
A fala arrastada
Temos o raciocínio lento
Mas por que
Ó senhor por que
Se tudo ao redor é tão rápido?
O que sei da vida
Que me contam pela telinha
Parece incompleto
Mas menos completo sou eu
Ai grande menu de carnificina
Odeio mais ao assassino ou ao corrupto?
Desprezo mais à china ou à somália?
Ai dor da partipulação
O busão travado no trânsito
Passeia por mil locais que desconheço
Desconheço meus vizinhos
Nos meus sonhos sou sempre outro
Chamo a amada pelo nome errado.
O nobel da paz
É a isca perfeita
Politicamente correta
Samba no anzol múltiplo
Apoiando a dor nuclear
Defende sereno a destruição.
Ah santa mãe de todos os santos
Ajudai-me!
Dai-me alguma razão
Dai-me cinco minutos
Ai cinco benditos minutos
Pra que eu possa respirar
Pra que eu possa olhar pros pássaros
Sentir o vento!
Pra que possa me acalmar
Olhar um instante pros meus filhos
Fazer um afago à minha esposa.
A vida não passa rápido
Somos nós que aceleramos
Pisamos fundo sem chorar
E quando surge o denso muro
Não há nada a contemplar
Choco-me com a mentira perfeita
Heptaplégico suspiro então
A perda de todo sentido.
Quisera a alegria mais banal
De poder ver minhas próprias mãos
Quisera o sonho virginal
De correr descalço rolar na grama
Quisera um tempo anormal
Em que tudo fosse natural.
Mas não há tempo
Não há paciência
Vou de drive-thru
Que depois arde o cu
Se eu fosse macho
Espancava alguém
Incendiava um mindingo
Dilacerava um velho índio
Se eu fosse gente
Metia mão naquela boceta
Quebrava o queixo do patrão
Machadada à testa da dondoca!
Ah se eu fosse melhor
Se eu soubesse beber água
Se eu soubesse cavar buracos no chão
Se eu soubesse tirar do frio da terra
O mamoeiro o abacateiro da ponderação
Mas quem precisa de harmonia
Pros infernos com o silêncio
Quero palavrões em todas expressões
Preciso do gesto abrupto que aprisiona
Que atrás de grades é que sou eu
Estável protegido do mundo lá fora.
Ah tenebroso mundo lá fora!
Há estradas eles dizem
Mas eu não creio
Nunca vi
Há gente boa lá fora
Eu não creio
Nunca senti
Há perfeição lá fora
Nem a pau
Nem lá fora nem aqui dentro!
Mas há um futuro
Bom futuro que me aguarda
Quando o mundo tiver menos gente
Quando os terremotos e dsts vencerem
Lá estarei eu firme e forte
Vestindo a máscara da bondade
Conformado orando por sobreviver
Uns têm medo de não viver
Uns temem o mundo não ver
Mas eu
O que eu temo
É a consciência
É a verdade óbvia
Que não sei
Não quero saber
E tenho raiva de quem sabe!