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A ERVA DA PRADARIA

 
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Estava um lindo dia de verão. O Sol brilhava e fazia brilhar toda a verdura da pradaria, As árvores em flor davam muita beleza e a vida tinha outro perfume.

Salvo alguns animais dos ditos selvagens de grande porte e os passarinhos que esvoaçavam se poisando de tempos em tempos para procurar alimento num chilrear constante, animavam musicalmente toda a pradaria.

Com o chegar da noite, aqui e ali começaram a aparecer outros animais que até ali se tinham regalado à sombra das belas árvores, evitando assim que algum caçador furtivo os apanhasse.

A noite chegou em plena beleza com a Lua a pratear toda a pradaria.
Coelhos e lebres, começaram também a aparecer, ora vindo da direita, ora vindo da esquerda , sei lá, apareciam de todos os lados.
Correndo para aqui correndo para ali, procuravam a erva qual a mais tenrinha, logo a mais fresquinha.
Pouco a pouco, já com a barriguinha bem cheia, os mais velhos começaram a formar grupos de amigos discutindo de tudo e de nada, mas principalmente da crise que pouco a pouco se estava a instalar nas pradarias,
-Pois é caros amigos, não sei quem é o culpado disto tudo, o que sei é que se assim continua teremos que emigrar, pois que a erva por aqui é cada vez mais rara, disse um dos coelhos.
-Tens razão. Tenho a minha família a sustentar e se assim continua também não sei o que fazer, disse um outro coelho pai de família.
-Mas sabemos bem, quem são os culpados, é o bicho-homem que tudo destroí, andam para aqui a regar o prado com uns líquidos, que tudo queima.
-É verdade... disseram todos num coro que atravessou a pradaria.

Todos os outros coelhinhos, jovens, que brincavam, dançando e cantando, correndo e saltitando, de tal maneira se assustaram que foi vê-los fugir um para cada lado.

-Olhem...! Mas é Timorata e Pimpão que vêm em nossa direcção, são bem eles, não são?
Um dos coelhos, limpou as lentes dos óculos, franziu as sobrancelhas, passou a pata pelos bigodes e disse:
-São bem eles são!
Timorata e Pimpão aproximaram-se, Pimpão já andava com bengala, enquanto Timorata sempre bela, mal grado a sua idade.
-Olha o Pimpão e a nossa muito querida Timorata! Há quanto tempo nãos nos víamos... Então que é feito de vós? Mas Pimpão, então porquê essa bengala? Partiste uma pata?
-Não meu caro amigo, não, por vezes penso que até seria melhor, mas infelizmente é a idade, meus amigos, a idade e claro ando cheio de artrose, uns dias melhor, outros nem tanto.
-Mas Timorata.... sempre bonita!
-Felizmente que com a minha idade, já nada me me faz corar, senão já estaria vermelha como um pimentão, ihihihihihihih
-Então, vieram ver a família, não é assim?
É verdade, é verdade, depois da morte de meus pais ficámos nas suas pradarias, os nossos filhos casaram, somos avós e hoje vim até cá para os ver, estava lá em baixo a falar com eles quando ouvi as vossas protestações, então do que se trata?
-Do que se trata... do que se trata... é o problema da nossa erva, está desaparecendo pouco a pouco, queimada, envenenada, eu sei lá.
-E que pensam fazer? Olhem que onde moramos, temos o mesmo problema e a nossa colónia é cada vez menos numerosa.
-E que fazem vocês? Não protestam?
-Protestar? Para quê? O bicho homem tem todo o poder e vai destruindo as nossas terras,
se assim continua, ainda um dia vão fazer como os americanos fizeram aos pobres dos Índios, vão-nos empurrar para uma reserva qualquer e ficamos sem liberdade, ficamos sobre as ordens desses bichos.
-E se fossemos falar com o Chefe Orelhudo? Como chefe da nossa comunidade, talvez que ele saiba o que devemos de fazer.
-Não me parece um má ideia, podemos ir amanhã.
-Então, contem-nos lá um pouco da vossa vida, depois de tanto tempo sem nos ver...
--Oh.... nada há de especial, a rotina, meu amigo,a rotina, nada posso fazer visto a minha idade e eu e Timorata, estamos na reforma, uma pequena reforma, depois de tantos anos a tratar da erva, temos direito a uma pequena parte que é muito justa para matar a fome, mas que fazer? Sabem que nas eleições, como de costume, as promessas são muitas, mas na realidade não passa disso mesmo, de promessas, nada mais.
-É, é...com Republica ou com Monarquia, são todos os mesmos, só olham para a erva que nos roubam pagando os nossos impostos, Todos para o Chefe e um chefe para todos. É assim a vida dos pobres, meus amigos.
Bom, vamos lá falar com o Chefe amanhã.

Todos se despediram, a noite já ia alta.

Na noite seguinte, lá foram falar com o Chefe Orelhudo, que já tinha sido informado da visita.

-Chefe Orelhudo, nós estamos aqui reunidos para vos falar...
-Se não estou em erro, o senhor coelho, é o coelho Pimpão, não é assim?
-Sou sim Chefe, mas como ia a dizer...
-Não, não diga mais nada, que eu saiba, o coelho Pimpão não pertence a esta comunidade, não votou aqui, logo, não tem direito à palavra.

Muitas vozes de revolta se fizeram ouvir, falar assim ao Pimpão, um dos mais idosos, mas que falta de respeito!
-Não merece a pena o contestar, Chefe Orelhudo, sabe, o seu antecessor era muito amigo de todos sem olhar onde eles moravam, era um Chefe digno desse nome, mas tem razão, não falarei.

Todos os presentes protestaram ninguém estava de acordo com o Chefe Orelhudo.

-Bom, afinal, porque é que vieram aqui me incomodar?
-Incomodar.... Chefe? Não! Viemos simplesmente lhe dizer que há menos erva na pradaria e gostávamos de saber o que tenciona fazer para resolver este grave problema.
-Que querem que faça? Se não estiverem contentes, olhem façam greve!
-Fazer greve? Mas greve de quê?
-Façam a greve de fome, assim haverá mais erva.
-Isto é escandaloso, para as próximas eleições, chefe, conte connosco.
Tristes e cabisbaixos todos deixaram o local trocando ideias.
-É sempre assim, quando precisamos que os responsáveis resolvam os nossos problemas, nada fazem e ainda nos tratam mal, enfim, continuamos a acreditar que o bicho homem tome consciência do que anda a fazer à Mãe Natureza, que pare de envenenar os prados, e que um dia, talvez possamos viver felizes como os nossos antepassados.













SOU COMO SOU E NÃO COMO OS OUTROS QUEIRAM QUE EU SEJA

Sociedade Portuguesa de Autores a Lisboa
AUTOR Nº 16430
http://sacavempoesia.blogspot.com em português
http://monplaisiramoi.eklablog.com. contos para as crianças de 3 à 103 ans
http://a...

 
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Alberto da fonseca
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 27/04/2010 13:13  Atualizado: 27/04/2010 13:13
 Re: A ERVA DA PRADARIA
Alberto,

Fiquei aqui com o coração tão pequenino ao ler este texto tão belo e devidamente bem expressado os sentimentos de revolta...

Se os homens do poder soubessem amar a natureza,saberiam ouvir as palavras que o povo expressam,ainda que não fossem atendidas devidamente,mas creio que poderiam ser amenizado a degradação do meio ambiente...

Olha confesso...deixaste-me sem palavras com este grito de liberdade de expressão!

Parabéns!

Abraços fraternos

Rosa


Enviado por Tópico
gil de olive
Publicado: 27/04/2010 17:08  Atualizado: 27/04/2010 17:08
Colaborador
Usuário desde: 03/11/2007
Localidade: Campos do Jordão SP BR
Mensagens: 4838
 Re: A ERVA DA PRADARIA
Contente por ler mais um belo texto de sua tão ampla coleção!