Com que visões sonham os cegos?
Que secretas miragens habitam seus pensamentos?
Que terra estranha é esta que piso
e me foge debaixo dos pés?
Que estranha dor é esta que sinto,
sem saber o que é...?
A luz abandonou meus olhos
e nada vejo, para lá da cortina de névoa.
Em vão, procuro uma porta aberta,
mas apenas pressinto trevas no caminho.
Incapaz de guiar meus sonhos na escuridão,
arrasto-me, sem saber a que ruas bater.
Passo a passo, degrau a degrau,
cerro os dentes, lutando por um palmo de terreno.
Escuto vozes!
Milhares de vozes com garras de espinhos
que me atravessam o peito
e se cravam no eco da noite.
Avanço por entre esse mar de lamentos,
num agonizante desfilar
em busca de uma porta aberta,
mas nada vejo.
Sacudo o olhar,
estendendo os olhos mortos no vácuo,
sigo as sombras que deslizam para o fundo do túnel,
apelando à compensação dos sentidos,
mas continuo sem ver,
não achando diferença entre a noite e o dia.
Que pode um cego fazer,
no coração das trevas...?