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SONETOS

 
30651

As minhas confissões, erros, pecados
Jamais me permitiram salvação
Enquanto a vida traça a viração
Volvendo aos meus diversos vãos e enfados,
Não deixo mais sequer meros recados,
Nem tento novos dias, pois virão
Somente os mesmos ledos, sem verão
Inverna a cada dia nestes prados.
Igrejas e demônios poluindo
O quanto poderia ser infindo
Cenário decomposto, sem ternura.
Caminho sem sequer ter um momento
Aonde poderia sem tormento,
Sobrando para mim tanta amargura...

30652


Adentro felizmente este caminho
Que leva ao meu querido Satanás
E tenho nesta fúria, a imensa paz,
Da qual e pela qual me fiz daninho,
Erguendo um brinde ao Demo, vou sozinho
E embora na verdade tanto faz,
O quanto me fiz rude e até mordaz,
Sangrando a cada verso, traço o ninho.
Não quero o teu perdão nem mais preciso,
Se a vida sempre traça um prejuízo
De que me vale assim, misericórdia,
O passo mais feroz que inda se dê
Transforma qualquer coisa sem por que
No anseio mais sublime da discórdia...

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Lavando os meus pecados com as lástimas
Que tanto surtem ledo e triste efeito,
Já não seria assim tão satisfeito
O mundo feito em pulhas, vagas lágrimas,
E tantas vezes traço em tom atroz
O quadro que tecera a mansidão
Se eu quero e mesmo adoro a danação
É nela que se torna firme a voz,
Augúrios entre sonhos, senda vis,
Resenhas costumeiras, e as jornadas
Deveras entre tantas malfadadas,
Assim talvez me faça mais feliz.
Reparo a sombra escusa desta bruma,
E toda esta esperança em vão se esfuma...

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Deitado sobre as sombras do que fui
Encontro esta satânica figura,
E quando se percebe assim ternura,
A morte em minhas veias, segue e flui.
O quanto deste demo sempre influi
No passo que deveras transfigura
Embora te pareça uma loucura,
Revela o que decerto pressinto e rui.
Não pude contra a força mais insana
E tantas vezes alma tão profana
Hedônico demônio me tocara,
Assim ao se sanar a solidão
Nos ermos deste inferno a solução
Cicatrizando o não, dorida escara...

30655


Espírito satânico domina
O verso mais audaz que poderia,
E tanta vida feita em tez sombria
Negando desde sempre alguma mina,
Aonde se emanara podre sina
E tanto quanto pude em agonia
Dizer do meu fantasma que se cria
Enquanto este terror tanto fascina,
A sorte desvendada neste enredo
E quanto mais ao demo me concedo
Percebo enfim a tal felicidade,
Assim ao retratar a humanidade
Nas sendas de Satã eu me enveredo
Minha alma pouco a pouco se degrade...

30656

Poder que nos seduz, dinheiro e gozo,
Assim ao mais sublime dos altares
E quando com certeza tu tocares
Verás o quanto é belo e majestoso,
Ainda quando agora, este andrajoso
Demônio nos diversos lupanares
Caminhos mais sutis tu profanares,
Após a tempestade o prazeroso
Cenário se mostrando em ouro e fêmeas
Diversas almas sendo quase gêmeas
E nelas se desnuda este delírio,
Deixando para trás a virulência
Da espúria e sem proveitos inocência
Matando o que restara em ti, martírio...

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Sentindo-me deveras no vapor
Aonde se esfumaça a liberdade,
Vencendo com furor a tempestade,
Gozando deste imenso dissabor,
O preço que se paga pelo amor,
Enquanto o tempo tudo em vão degrade,
Rompendo dos pudores qualquer grade,
Não vejo mais a cena a se compor,
Fagulhas incendeiam os infernos
E deles novamente ricos ternos,
E tantas maravilhas prometidas,
Infaustos nesta vida? Nunca mais,
Auríferos caminhos magistrais,
Nas hordas de Satã enternecidas...


30658

Marcado pelas ânsias do demônio
Não pude mais seguir tal procissão,
Nos círios e nas lágrimas de então
Agora dentro em mim tal pandemônio,
Ao ser deste Satã um patrimônio,
Não quero mais a dura solidão
Tampouco este silêncio e me ouvirão
Do grande aristocrata ao vil campônio.
Servindo ao grande pai, o majestoso,
Herdando a terra inteira após o fim,
Medonho caricato um querubim,
Andando pelas ruas, pegajoso,
Verá depois de tudo o grande Império
Aonde o despudor dita o critério.

30659


Encontro no que tanto te traz pejo
O gozo mais sublime e tão perfeito
E quando em trevas tantas eu me deito,
O fim maravilhoso ora prevejo,
Nas sanhas mais sublimes um lampejo
Transcorre furioso e me deleito,
Agora por Satã se sou aceito,
O mundo em glórias fartas, mais sobejo,
Alívio aos meus tormentos, minhas dores,
Espinhos derrotando podres flores
E todo este cenário decomposto,
A pútrida visão, mera carniça
Poder que enfim se emana da cobiça
E Jeová enfim será deposto!

30660


Herdeiro deste Reino demoníaco
Satã, um soberano em gozo e festa,
Assim ao se pensar quanto funesta
Deveras noutra face afrodisíaco,
E tendo esta verdade em ser maníaco
Aonde se pensara em qualquer fresta
Adentra o coração e assim se empresta
Hedônico portal, paradisíaco.
Enquanto rege o Império do sentido,
Tomado pelas ânsias da libido,
Eclético senhor, dita o poder,
E assim ao se mostrar desnudo ser
Edênica serpente? Ledo engano
É belo e tentador tal soberano.
MARCOS LOURES
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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