Tentar encontrar pedaços de mim nas ruas de São Paulo, é parte dos meus afazeres diários, nas horas que em que me dedico a esta busca nem sempre feliz, nem sempre proveitosa me sinto inteiro. Divido por ruas, avenidas, becos, nas paisagens passantes e vagas, da visão baixa e apequenada do carro, para dar um sentido cientifico a esta busca insana.Quando nada encontro sei que ali ainda terei oportunidade de viver algo novo inusitado ou talvez absolutamente nada.
Recolho estes pedaços que encontro, como um catador de latinhas de alumínio, as guardo ou reavivo fundo na memória os momentos que passei, as angustias que senti, formando uma colcha de retalhos desta imensidão de concreto, onde nasci e cresci e hei de descansar... nesta minha cidade que nunca dorme ou descansa.
Ao fim da semana faço um balanço do que achei, das emoções que revivi e senti.Tento dividi-las por ordem de grandiosidade, sempre multiplico por ordem dos sentimentos, se é que sentimentos tem ordem, que mais gosto, nelas vejo a soma de todos os meus amores, presentes, passados, futuros, o resultado é sempre este amor maior por Sampa, terra de todos os exílios, pátria dos esquecidos, dos solitários e dos solidários, dos pobres que fazem a riqueza dos ricos,terra dos caçadores de dinheiro e dos caçadores de sonhos, de todas as mulheres do mundo e porque não de todos dos homens ? Pois esta terra a tudo encerra, em seu corpo escavado e fundeado de aço e concreto, uma imagem única do que o homem é capaz de construir... e destruir .Pois só é minha, a pátria dos meus sonhos, da minha juventude, da minha vida...a que todos vemos é a cidade de todos nós.
Carlos Said