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Palavras ao ocaso

 
O lento passar dos dias...

Perpetuando a nossa eterna e viciante nulidade, um tortuoso fervilhar de palavras gastas, numa promiscuidade de actos incoerentes, que arrasta por entre infernos labirínticos, os nossos incipientes cadáveres nauseabundos, desesperadamente tentando acreditar, no que já há muito deixou de ser credível.

<br />O lento passar das semanas...

Laxante ideal para libertarmos o que não faz sentido ser guardado, o conhecimento vão, para quem a teoria servirá sempre para subjugar a razão. No lado mais obscuro dos nossos medos das nossas fraquezas, que bem as tentamos esconder, reprimir, camuflar, mas que tão cegamente as vemos em outros. Que tão bem apontamos a tudo e todos, com a hipocrisia de quem vomitou sem saber o que ingeriu e agora se perde no meio dos restos procurando pelos pedaços moídos, mastigados, digeridos. Na desesperada tentativa de compor algo que por não existir em nós, nunca poderá ser reconhecido.

O lento passar dos meses...

Agudiza todo um sofrimento, que por entre suaves fragrâncias de ingénuo e inebriante aroma, procuramos perfumar a nossa efémera passagem terrena. Perdidos numa mistura sintética de odor purgante, refugiamo-nos na nossa imensa e promíscua escuridão. Procurando assim, inconsequentemente, ultrapassar o que dela eternamente subsistirá em nós mesmos. Fugaz miragem de um deserto crescente, de imutáveis receios, onde o mais persistente dos oásis se dissolve nas ébrias areias do nosso omnipresente não ser.

O lento passar dos anos...

Eterno e tortuoso murmúrio de uma voz para sempre perdida na penumbra do tempo vazio. Oceanos de lágrimas temperadas por uma melancolia agridoce, banhando as praias já desertas em marés de submissos lamentos. Meros ecos que se dissipam nas arribas da mente, fortalezas centenárias edificadas pelo acumular de sonhos destroçados. Despojos de guerras vãs, para sempre guardados na salina da memória. Essa crosta que nos protege e nos molda através da erosão corrosiva de contínuas ondas de inacabadas promessas.

O lento passar de uma vida...


António de Almeida

 
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Antonio de Almeida
 
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Enviado por Tópico
João Filipe Ferreira
Publicado: 24/07/2007 19:41  Atualizado: 24/07/2007 19:41
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 Re: Palavras ao ocaso
Muitos parabens por este texto magnifico.
adorei a forma como escreveu..
continue a nos presentear com mais textos fantásticos como este.

parabens escritor!!

Enviado por Tópico
goretidias
Publicado: 25/07/2007 12:11  Atualizado: 25/07/2007 12:11
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Mensagens: 1237
 Re: Palavras ao ocaso
Uma prosa de alta qualidade! Parabéns!
Um abraço