OS TERRÁQUEOS
Ante a presumida falência
Da mundial governança
Uns senhores de estranho mundo
Mas austero semblante
Afirmaram com eloquência
Para os terráqueos habitantes:
Alto e pare a dança.
Elencaram suas razões
Aduzindo motivos de monta
E alegando que vil coutada
Era a que estava a ser governada
Pelos terráqueos vilões.
De autoridade imbuídos
E ostentando os seus pendões
Sentenciaram solene
Nova saída encontrar
Para a terra governar.
Senhor da terra seria um só
De ditadura o seu governo
Que só de si teria de cuidar
Não teria funções de monta
Que só a si teria para governar.
De braço no ar a eleição
Foi feita sem perda de mora
Todos a mão levantaram
Com ânsia de vitória.
Aquele que foi nomeado
Esfregou as mãos de contente
Não sabia, pateta alegre
Que para que haja mundo
Preciso é que haja gente
Ao ver-se na terra sozinho
Só os pássaros a chilrear
As árvores a ver crescer
O trigo não ter que mondar
O silêncio sentir crescer
Não ter asno com quem falar
Mas sobretudo tomar tino
De que por muito que se esfalfe
Vai ver-se privado do que mais quer
Como acordando de um sonho
Diga-se de passagem, medonho
Megalómano desiste de ser
Vê que a felicidade não está no ter
Mas bem mais no bem querer
Muito mais estará no dar
E dar significa amar.
Antonius