Um parto solitário
A lenha já crepitava na lareira onde todos os dias a panela de ferro cozinhava o sustento da família
Era manha cedo, no sinos da torre da igreja soavam as aves marias, sinais sonoros de um amanhecer em paz com os Deuses e a natureza.
A cozinha um espaço pequeno e simples onde a mesa encostada a parede servia para todas as actividades da família. Preparar o comer, descansar e para os miúdos fazerem os deveres quando chegavam ao fim da tarde da escola.
Era ali que tudo se passava, naquele pequeno espaço.Erra ali que se comemoravam as alegrias e se choravam as tristezas de uma familia tipica da aldeia.
Como todas as manhas Joana acendia o lume e começava a preparar a sopa que alimentava a sua família. Na lareira duas panelas de ferro aqueciam ao lado de uma fogeira a crepitar.
Erra logo de manha que a sopa de feijão,alimento principal na refeição do dia ia sendo confeccinada..Um pedaço de carne de porco,os feijões a cenoura,as batatas e a cebola ferviam mansamente na panela deixando um aroma agradavel espalhar-se pela casa.
Os filhos ainda ensonados levantavam se mais tarde para engolir umas magras sopas de café com broa e ir para a escola.
O marido ainda não tinha chegado do turno da noite na fábrica.
Joana carregava no ventre mais um filho, prestes a nascer, e carregava também a solidão e a impaciência de um parto feito pelas próprias mãos. O corpo começara já a dar sinais que a criança não tardava a chegar.
Joana preparava então a bacia da água morna, as toalhas lavadas e a tesoura com que iria cortar o cordão umbilical daquela criança.
Na solidão do seu quarto ,uma peça pequena da casa ,onde só cabiam a cama e uma cadeira,Joana, iniciava o processo transcendente da libertação daquele corpo pequenino do seu ventre para a luz do mundo.
Os gritos de dor eram silenciosos
-De que adiantava gritar
-Dizia ela. Não haveria ninguém para acudir. De cócoras agarradas aos ferros da cama a criança nascia.
Joana pegava então naquele pequeno ser, embrulhava-o nas toalhas brancas,limpava-o,dava-lhe o primeiro banho e deitava-se na cama a espera que o marido chegasse do turno da meia-noite.
Tantas crianças nasceram assim,sem médicos,sem parteira,apenas a solidão de dois seres,a mãe e o bebé.