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TÁTÁ E TOTÓ

 
TATÁ E TOTÓ
Autor: Carlos Henrique Rangel

Fazia calor naquela manhã de domingo.

Como sempre acontecia nos domingos, quase todas as crianças da cidade se encontravam ali na bela pracinha.

Luna e sua irmã Ananda brincavam de “pegador”.
Corriam para um lado.

Corriam para o outro.

Subiam em árvores.

Escondiam na fonte luminosa.

Corriam, escondiam, subiam, brincavam a valer.

Neste dia, no entanto, havia uma novidade.

Não era um novo brinquedo ou uma nova criança.

Não era uma flor diferente no jardim ou um novo trenzinho musical.

Em um canto da praça, duas figuras chamavam a atenção das pessoas.

A menorzinha era peluda. Um pelo marrom escuro, parecia um cachorro. Estava deitada no chão encolhidinha.

A outra figura, sentada no banco, tinha um nariz redondo bem vermelho e a boca pintada de azul. Os cabelos eram brancos como algodão.
Foi Luna quem viu primeiro aquela novidade e rapidinho chamou a irmã e uma amiga.

- Vejam, um cachorro. – Disse Luna apontando o animal.

- É um gato. – Falou Ananda se aproximando.


- Pode ser um urso. – Completou Reisla.

As três meninas se aproximaram.

- Eu não disse que era um cachorro. – Falou Luna passando a mão no animal deitado.
- Parece doente, nem se mexe. – Disse Ananda.

O homem de nariz vermelho olhou para a menina e não disse nada.

Parecia cansado e os velhos olhos olhavam sem olhar.

- O cachorro é do senhor? – Perguntou Luna.

O velho homem de nariz vermelho balançou a cabeça respondendo sim.

Luna reparou as roupas do homem.

Um terno velho com remendos.

Olhou para o cachorro, um triste animal sujo.

- Como ele se chama? – Perguntou Reisla.

- Totó... – Respondeu o homem.

- O senhor está passeando com ele? – Perguntou Luna.

- Mais ou menos... Na verdade estamos fazendo duas coisas: passeando e trabalhando.

- É mesmo? O que é que vocês fazem?

O homem suspirou cansado.

- Com o que eu pareço? – Perguntou ele às três meninas.

- Eu acho que o senhor é um palhaço. – Falou Reisla.

- Eu acho que o senhor está gripado. – Falou Ananda mostrando o nariz vermelho.

- Mas você é boba mesmo em Ananda, não está vendo que ele é um palhaço... – Ralhou Luna.

O homem balançou a cabeça.

- Isto mesmo sou Tatá, “o Palhaço Andarilho”. – Respondeu.

- E o que o senhor faz? – Perguntou Ananda.

- Ai meu Deus, que menina bobona... Palhaço faz palhaçada, não é seu Totó ? – Perguntou Reisla.

- O nome dele é Tatá. Totó é o cachorro. – Falou Luna.

O palhaço piscou os olhos tristes.

- Eu e Totó fazemos arte. – Disse ele olhando para o cachorro.

- Totó está fingindo de morto? – Perguntou Ananda passando a mão no animal.

- Não, ele está descansando.

- Mas seu Tatá, onde esta o Circo? Todo palhaço tem um circo. – Perguntou Luna.

- Totó e Tatá não pertencem a nenhum Circo...Já pertencemos... Agora somos sós. – Disse Tatá de cabeça baixa.
- Por quê? – Perguntou Reisla.

- Ah menina, fiquei doente e fui mandado embora, agora eu e Totó corremos o Brasil mostrando nossa arte.

As meninas olharam para as duas tristes figuras e tentaram imaginar o que faziam.

- Mostra para a gente a sua arte. – Pediu Luna.

O palhaço não disse nada. Levantou com dificuldade e puxando de uma perna caminhou até o centro da praça.
Totó se levantou e o seguiu de cabeça baixa.

O homem e o cachorro chamaram a atenção das pessoas da praça que curiosas começaram a se aproximar:Casais de namorados.Meninos e meninas.Senhoras e senhores.Luna, Ananda e Reisla.

Tatá deu uma lenta olhada em seu público e abriu um triste sorriso de velho palhaço.

- Respeitável público, meu nome é Tatá e aqui temos Totó. Somos artistas andarilhos e vivemos da nossa arte. Peço apenas uma ajuda para o nosso sustento.

Estralou os dedos e Totó se pôs a caminhar com as patas traseiras dando voltas. O público delirou aplaudindo. Depois Tatá pediu que Totó pulasse dando cambalhotas e o animal que antes parecia doente obedeceu ao dono. Passava pelas pernas doentes de Tatá, rolava, latia...
Luna olha admirada a arte dos dois. Notou de repente que algo estava acontecendo. O velho palhaço e o cachorro sujo e feio, diante de seus olhos começaram a brilhar.

- Veja Ananda, olhe o que está acontecendo... – Gritou a menina assustada. Ananda e Reisla estavam de bocas abertas.

Uma mágica aconteceu. O velho palhaço triste, aleijado e de roupas emendadas não existia mais. Em seu lugar , um jovem e dinâmico palhaço de roupas coloridas pulava ao lado de um Totó de pêlos brilhantes e cheio de energia. Totó brincava com as crianças, fazia piruetas e saltos mortais... Pulava argolas, pulava e latia...
Quando o show acabou uma chuva de moedas cobriu os dois artistas.
Luna, Ananda e Reisla correram para a dupla agora cercada de crianças.
Os adultos admirados observavam o bando de crianças ao redor do velho palhaço pobre e do cão sujo.
Não entendiam nada.
Fim

 
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