“ Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria... Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos... Essa... é a alegria que ele quer. ” (Guimarães Rosa)
Sonhos, medos, expectativas,
Estão presentes nas partidas
Seja por aeronaves, navios,
Coletivos ou locomotivas
Ontem, hoje ou amanhã,
É próprio da natureza humana partir
Na grande aventura da vida,
Em busca de um novo porvir
Todavia, nestas caminhadas,
Ainda que a moderna tecnologia
Nos proporcione a segurança
E nos impulsione a navegar terras
Nunca dantes exploradas,
O que nos fascina e conquista,
Mas, a imprevisibilidade das rotas,
Em ansiedade nos consome e angustia.
A vulnerabilidade humana é limitante
Ante o poder das forças da natureza
Que em turbulência nos traz a incerteza
E a viagem pode interromper-se bruscamente.
Todavia, a possibilidade de transcender,
Inerente à condição humana, de espiritualidade
Nos possibilita refletir, ir além do profundo mar,
Emergir da dor na brusca separação, da saudade
Ainda que o trágico acidente ou cruel fatalidade
[... persiste a dúvida da culpa atormentando o juízo]
Nos prive fisicamente do fraterno convívio
A oração seja alavanca para trazê-los à nova realidade
E permita a eles seguir voando,
Como corpos de luz na viva essência
Despidos dos vínculos terráqueos,
Imersos na chama que nunca se apaga
E assim, livres de todas as amarras,
Dores, sofrimentos e angústias,
Possamos partir em direção
Ao destino comum - próxima estação -
Despertos para outros sonhos,
Encontros e Partidas,
E segurando firme o timão
Conduzido pela cósmica Mão...
* Homenagem às pessoas que tiveram suas vidas ceifadas no trágico voo da Air France sob o Oceano Atlântico.
AjAraújo, o poeta humanista, homenagem às vidas ceifadas neste trágico vôo da Air France, escrito em 3/6/09.