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LEMBRAR-ME DE TI

 
LEMBRAR-ME DE TI


Ainda me lembro…
Os dois sentados diante da serra
Mergulhados no verde e no azul…
Os teus olhos saltitavam de nuvem em nuvem,
Acolchoavam a fantasia de sonhos e projectos,
Riscavam o céu como relâmpagos,
Eram a recta orientada para o futuro…
Eu dizia-te:

- Amor, depois de mim há tudo!

Os meus compridos dedos entretinham-se
A brincar com o éter perfumado…
Um carrossel de emoções brotava da pirâmide dos meus desejos
Em tropel,
Definiam prioridades e anseios,
Onde eu era a peça central de um puzzle por ti inventado
Num labirinto de outras tantas peças
E com uma carícia ao teu cabelo
Dizia-te:

- Amor, depois de mim há tudo!

Tu falavas da vida e construías panóplias de sabedoria
Com palavras cor-de-rosa e voz doce
Onde eu era mais uma vez e sempre
O cavalo alado com asas de querubim a mergulhar nos astros
A construir Ursas Maiores em horizontes indefinidos
Onde escrevia no cimo de um morro qualquer
Desde que a tua presença se fizesse sentir pelo teu cheiro:

- Amor, depois de mim há tudo!

E quando o sono de tanto querer acalentava a minha excitação
Tudo o que eu queria era a tua mão sobre o meu peito
Arfavas como o chicote do vento e desprendias as amarras
Da loucura
Brincavas com o sol a tempestade da luz e
Diante da voz melodiosa da lua
Encenavas o teatro da comoção
Onde eu representava o mundo
O recheio da maça de Adão
A dentava de Eva
O Deus Omnipotente no Carnaval dos sentidos
Dizia-te então:

- Amor, depois de mim há tudo!

Por fim
Passavas diante das ondas no Reino de Iemanja
Que saltitavam de contentes…
Vinham as sereias solfejando…
Atiravam água às estrelas e fotografavam no mar todos os corcéis!
De lá do longe
Todos os navios traziam notícias de mundos distantes…
Índia vinha adormecer no meu travesseiro!
No teu olhar sebastianista
Eu encontrava o cloro das minhas ilusões e deixava-me ficar
À proa desses navios
A crer que o mundo tinha mesmo essa dimensão
E dizia-te:

- Amor, depois de mim há tudo!

Já acordado
De pé diante das mesmas águas
Na proa do navio fantasma em forma de nevoeiro
Faço teias de aranha com o infinito enrolado nos dedos
O rosto prenhe de lágrimas, os nervos rasos de água
Enquanto as sereias mergulham na minha visão errante
E nunca mais voltam
Procuro na areia o eco da tua voz num búzio quebrado
Numa concha ressequida
E então oiço-me a gritar às vagas sobressaltadas
Que me lavam os pés de murmúrios:

- Amor, sem ti não há mais nada!

12 Julho 2007
ANTÓNIOCASADO




 
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antóniocasado
 
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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 14/04/2010 01:38  Atualizado: 14/04/2010 01:38
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16148
 Re: LEMBRAR-ME DE TI
Texto romântico, rico em vocábulos e milionário em talento. Aplaudo daqui, amigo poeta! Um forte abraço!


Enviado por Tópico
Beija-Flor76
Publicado: 14/04/2010 11:23  Atualizado: 14/04/2010 11:23
Membro de honra
Usuário desde: 23/02/2010
Localidade: PORTUGAL
Mensagens: 2080
 Re: LEMBRAR-ME DE TI
Um poema de puro sentimento com, bastante lirismo e uma descrição soberba das palavras.
Este vou levar comigo .
Um abraço.


Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 14/04/2010 15:50  Atualizado: 14/04/2010 15:50
Usuário desde: 28/07/2009
Localidade:
Mensagens: 10799
 Re: LEMBRAR-ME DE TI
António

Soberbo, dá vontade de querer saber mais, fazer de conta que ainda não acabou, ao final, voltar ao
início, de tão belo que está.
É sempre um prazer, crei que este é um dos melhores poemas de amor que tive o prevuilégio de ler.

Abraço amigo
da rosa



Enviado por Tópico
LilaMarques
Publicado: 16/04/2010 19:38  Atualizado: 16/04/2010 19:38
Da casa!
Usuário desde: 07/04/2010
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Mensagens: 233
 Re: LEMBRAR-ME DE TI
ANTÔNIOCASADO,

Que belo poema trazendo o retrato de um amor belo, intenso, daqueles que a gente não quer que virem passado nunca!
Muito bonito!

Um abraço,
Lila Marques.