NAUFRAGIO
A Chiquita, un día de enero
Manos en desuso
roban tu fatiga
iluminan la madrugada
con pupilas sordomudas
alcanzo el límite
te beso
desgranas mi sexo
y no lo noto
ausente manera de avergonzarme
te bebes mis andanzas
mientras naufrago
en tus túneles sonámbulos.
ADRIAN RAFAEL MORALES GONZÁLEZ
1
“em teus túneis sonâmbulos”
Caminho em noite fria
Vagando a poesia
Sem sequer os preâmbulos
Meus passos são noctâmbulos
O verso que se cria
A sorte se que adia
Os passos dos funâmbulos
Vestindo a melhor sorte
Procuro por um norte
Aonde não pudesse
Além do que me cabe
Bem antes que desabe
Quem sabe tenha a messe?
2
“enquanto naufrago”
Por dias sutis
Talvez mais gentis
Vivendo este afago
O quanto inda trago
O quando já quis
Se tudo desdiz
O que fosse lago
Jogando o meu barco
No cais que procuro
O tanto se é duro
O chão que eu abarco
Poeta sonhando
Com mundo mais brando...
3
“te bebes minhas andanças”
Fazendo da fantasia
O que quer e ora me guia
Muito além destas lembranças
E se tanto enquanto avanças
Eu também já poderia
Desvendar minha agonia
E tocado em esperanças
Não pudesse ser somente
O que sinto a se pressente
Num momento mais audaz
Hoje sou se libertário
Muitas vezes necessário,
Mas a vida nunca traz.
4
“ausente maneira de me envergonhar”
Lutando com fúria percebo o final
Sabendo se tanto pudesse venal
O quanto não cabe meu mundo sonhar
Talvez possa mesmo sentir o luar
Chegando de manso raio sideral
Gerando o caminho que sei sem igual
Bebendo a certeza medonha do mar
Assim também sigo sabendo da sorte
Que tanto queria mudando o meu norte
E quando pudesse sentir tal alento
Não tendo certeza servindo este sonho
Aonde eu queria tanto que componho
O meu próprio verso bebendo este vento.
5
“e não o noto”
Deveria
A alegria
Se eu desboto
Nunca boto
Fantasia?
Poesia
Vou remoto
Caminheiro
Por inteiro
Sabe cedo
Desvendar
Do luar
Seu segredo.
6
“debulhas meu sexo”
Tocando macio
O quanto desfio
Sem rumo e sem nexo
Amor se complexo
Vencendo este frio
Jamais desafio
Se nele o reflexo
Do que já não sou
Tampouco restou
Do quanto se fez
Sem ter nem por que
O que se vê
Pura insensatez.
7
“te beijo”
Te quero
Sincero
Desejo
E vejo
Austero
Mais fero
Lampejo
Do amor
Por que
Se vê
Na flor
O brilho
Que trilho.
8
“atinjo o limite”
Dos sonhos sem voz
E quando feroz
Talvez acredite
No rumo que grite
No canto do algoz
E tendo estes nós
Decerto um palpite
Gerado do nada
Do nada se cria
A tal fantasia
Já tão destroçada
Permite somente
O que não se sente.
9
“com pupilas surdo-mudas”
Com caminhos mais diversos
Nada sabe quem dos versos
Na verdade não acudas
Sortes grandes ou miúdas
Dias vários e dispersos
Navegando em universos
Onde nunca mais acudas
Sem sentir qualquer alento
Desespero sei de cor,
Nem deveras o maior
Nem o frágil pensamento
Se eu pudesse não seria
Deste jeito a poesia...
10
“alumiam madrugada”
Os meus olhos se nos teus
Já não vejo mais os breus
Dita sorte profanada
Na versão mais aguçada
Novos dias sem adeus
Quanto pude mesmo em Deus
Perceber a mesma estrada
Já traçada por quem tanto
Ao mostra-se em desencanto
Proferira novo dia
Sem saber do quando iria
Navegando a poesia
Destemido e sem quebrando.
11
“roubam tua fadiga”
Os meus passos audazes
E se tanto perfazes
Porquanto desabriga
A sorte dita a liga
E nela tão mordazes
O quanto sei que trazes
Enquanto se persiga
A tua própria luz
Que se tanto produz
Reproduz cada sonho
Aonde meu desejo
Tomando o rumo eu vejo
Além do que proponho.
12
“Mãos em desuso”
Pés em conjunto
Quando me ajunto
Passo confuso
Sigo sem fuso
Se eu sei do assunto
Eu me besunto
E cada falso
Novo percalço
Passo sem rumo
Vivo caminho
Cedo ou sozinho,
Sempre me esfumo...
De Praia para o mundo lusófono
VALMAR LOUMANN