ao poeta Sebastião Gama, morto em 14/Out/2000
Cinco da manhã.
O despertador do meu relógio de pulso
acorda-me da noite em que ainda
não dormi.
A torre do tempo.
A mesa quase redonda do café
ao fundo deste cais adormecido.
Um vagabundo de partida,
quando da noite amanhece o dia,
para o banco esquecido
nesse extremo do jardim.
Ali se estira, ali se esquiva, ali se acolhe
ali se esconde
ali foge de si…
Envergonha-se da Luz
que ao fundo da pupila desmaiada
lhe mostra as ruínas da vida.
O pêndulo do tempo naquela face envergonhada
e suja e encardida
dobra-lhe a sombra da esquina
onde se acolhe,
humedecida.