Acordo a meio da noite. Estou triste, abatido e cansado, mas não sei o porquê. Quando me deitei estava bem, quer dizer, “bem” para mim nunca é mesmo “bem”, mas quando me deitei há algumas horas atrás não estava assim. Quero adormecer outra vez, quero tanto. Quero sonhar, alimentar as minhas utopias com a impossibilidade que todas as noites imagino…quero sorrir. Mas o sono não regressa e eu continuo acordado, mergulhado nisto, nestas palavras que não consigo parar de escrever, nestas palavras que são como punhais afiados que me entram pelo peito, nestas palavras que escrevo contigo no pensamento.
E eu queria não te desejar, se queria. Queria agora estar a dormir, sem preocupações, sem esperanças infundadas, sem o “nada” que não tenho. Mas não consigo. Por mais que tente evitar dou por mim a fechar os olhos e a ver o teu sorriso, o teu olhar, a tua perfeição. Percebo finalmente aquilo que sempre me faltou. Tu. Mas não te tenho, nem hoje nem amanhã terei. E dói tanto saber isso. Dói tanto ver-te sabendo que isto, todas as minhas palavras, não chegam a ti. Dói tanto saber que um dia mais tarde vais esquecer que existo. É que nesse dia tudo o que escrevo deixará de fazer sentido, se é que neste momento tem algum. Nesse dia vou querer odiar-te e vou dar por mim a amar-te ainda mais. Nesse dia vou adormecer, mas hoje, hoje não.