Sou o descontrolado
De desejos volúveis e imorais
O que perdeu o atino corriqueiro
Do respeito às velhas tábuas.
Sou o desordeiro
Do além confundido por demônio
O que quer o que se há pra querer
Carente abusado extravazando
Sacralizando o sacrifício
Da entrega ao prazer.
Sou o inócuo solitário
Banhado do próprio leite fértil
Gozozo das lembranças dos sonhos que nunca tive.
Um maníaco
Tarado agressivo e também medroso
Cúmulo de promessas quebradas
De corações partidos
De espíritos insaciados
As fomes que nenhuma imaginação satisfaz.
A hiena briguenta
Rindo sobre a carniça do próprio irmão
A tirana matriarca
Comprovando a soberania da ferocidade
Onde só os mais fortes têm direitos
Ulterior tribunal da impiedade.
Os fracos rogam por perdão
E a onipotente onisciência os satiriza
Diverte-se noutras bandas
Com as orgias silentes dos aborígenes.
Sou o perverso
O chacal
Espreitando esquivo
Sob o tênue luar
Preparando bote
Por vezes
Não pelo alimento
Mas pelo treino
Pela mais pura alegria
Do assassínio.
A ferraz investida
Incompreendida
Dá vida nova ao bando
Novos reinados do porvir
De leoas humanas.
Os abutres
Pacientes
Aguardam
Pelas migalhas dos santos.
Longevo banquete
Sem preces.