as minhas palavras não são novas
nem fui eu que as inventei
mas preciso de cada uma presa às minhas mãos
quando lembro a miúda
lambuzada e suja
que esqueci ao achar.me
em Manhattan e
lembro a prostituta de peles flácidas e de olhos
borrados
vestida de vermelho e meias pretas rendadas
fumando boquilha
longa muito longa
segura na mão direita
as minhas palavras não são minhas e
eu sei
mas preciso que os poetas as reinventem
no riso louco ou na gargalhada contida
quando o grito se prende à garganta
preciso
do verso emprestado às madrugadas
vividas
em Saint Germain des Près
quando vivíamos das telas deixadas junto
ao Sena
e Notre Dame era o desejo que retomávamos
após o pequeno almoço
preciso de reinventar os poemas e
preciso
de espaço