Poemas : 

CANÇÃO SEM TEMPO

 
no porão da casa velha da rua conde de são joaquim
ouço tosses... tosses...
lembranças da avó?
prenúncio de tuberculose?

espio o baú adormecido faz tempo
a torneira enferrujada volta a respirar no tanque
solta um gemido de água morna...

no porão da casa velha
os mortos brigam pela partilha no inventário
só a negra velha não briga por nada
aparece de repente com sua boca desdentada
olha para mim e se ri
pergunto-lhe o motivo da graça
ela dá uma cusparada de fumo mascado e responde:

- Ué, sêo poeta, o senhor não ouviu,não?! São as criancinhas mortas querendo brincar com Menino Jesus de Praga, lá no oratório da vossa avó...

_________________

júlio




Júlio Saraiva

 
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Julio Saraiva
 
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Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 07/04/2010 16:27  Atualizado: 07/04/2010 16:27
Usuário desde: 06/08/2009
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Mensagens: 2028
 Re: CANÇÃO SEM TEMPO
rs...Fiquei imaginando aqui, a sua cara depois que ela disse isso, ou foi apenas uma visão sobrenatural da sua inspiração?...Gostei. Bjo.



Enviado por Tópico
miriade
Publicado: 07/04/2010 17:21  Atualizado: 07/04/2010 17:21
Colaborador
Usuário desde: 28/01/2009
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Mensagens: 2171
 Re: CANÇÃO SEM TEMPO
O poeta é mesmo um fingidor, parafraseando o grande poeta...e tudo me pareceu tão verdadeiro,que até imaginei menino jesus de praga em seu manto vermelho a brincar com os fantasminhas e sua avó com um leque nas mãos a observa-los, rsrs//

beijos, Lu


Enviado por Tópico
eduardas
Publicado: 07/04/2010 18:13  Atualizado: 07/04/2010 18:13
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Mensagens: 3731
 Re: CANÇÃO SEM TEMPO p/Júlio
sêo poeta que me levou a outras casas e outras histórias, que ainda hoje me lembro de criança.

bj
Eduarda


Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 07/04/2010 20:09  Atualizado: 07/04/2010 20:09
Membro de honra
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 Re: CANÇÃO SEM TEMPO
Realmente o imaginário do Poeta (um Poeta como tu...) não tem limites!!
Gostei muito desta canção sem tempo.
Beijo, Júlio
Vóny Ferreira


Enviado por Tópico
arfemo
Publicado: 07/04/2010 20:24  Atualizado: 07/04/2010 20:24
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 Re: CANÇÃO SEM TEMPO
caro Júlio,

...nos porões da nossa memória (e criação, em meu entender, tem sempre memória, próxima ou distante)
desfilam alguns invariantes (como a tosse, roupa velha...) e os personagens estão lá para nos interrogar, como aqui, que até parece ficção... o resto é seu jeito de tornar as palavras afeiçoadas e credíveis...

abraço fraterno
arlindo


Enviado por Tópico
Conceição Bernardino
Publicado: 07/04/2010 21:40  Atualizado: 07/04/2010 21:40
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Mensagens: 3357
 Re: CANÇÃO SEM TEMPO
olá meu irmão,

o poema está divinal...sabes que aqui até se briga por loiça velha.

beijinho carinhoso


Enviado por Tópico
TRIGO
Publicado: 08/04/2010 07:05  Atualizado: 08/04/2010 07:05
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Mensagens: 2325
 Re: CANÇÃO SEM TEMPO
...
olá poeta

no porão da casa velha
os mortos brigam pela partilha no inventário


Agora,
também ouço tosses,
tosses...


um grande abraço