É antes do grito que vem a voz
esperada desde sempre pelos
povos oprimidos e reduzidos a
pouco mais que nada e à miséria.
A palavra assim cuspida na parede
da desgraça, desmorona o muro
que se ergue forte e imponente
ante a plebe moribunda.
Derrubado o muro a palavra surge
hierática, desenvolvendo
mecanismos de defesa contra
a nova Inquisição instalada.
O povo sai à rua, de cabeça erguida
e de punho cerrado, contra todas
as ofensas dos demagogos e dos
déspotas, fantasmas hereditários.
A luta é brava e sem tréguas mas o
povo não desiste de lutar pelo que
julgam seu de direito, depois de
anos e anos de exploração patriarcal.
Soltam-se os poetas de suas imundas
masmorras e serão eles que irão dar
novo sentido à vida, à palavra
«liberdade», liberta das garras dos impunes.
O povo cadavérico pelo sofrimento
atroz, abraça-se aos poetas e numa roda
de fogo, sacodem o medo com um
simples gesto de ombros.
Já nada nem ninguém pára as gentes
eufóricas, agora que recuperaram
sua voz, que vai entre o silêncio e a
boca, antes amordaçada pelos tiranos.
Dêem-nos o pleno direito de viver
um pé de terra para cada um trabalhar…
Alimentado o povo que escorraça a ralé
para os confins esmagadores da cidade.
Jorge Humberto
03/04/10