Aglutinemos nossas almas, talvez possamos dar um pouco de alegria à nossa infindável tristeza.
Uma vez, uma voz bateu-lhe à porta.
O cão quer entrar, pensaste tu.
E não reparaste que já dentro de ti ele habitava.
Capaz de te secar as chuvas.
Montar a ânsia do fogo.
E comer-te o silencio.
Tens um cão dentro de ti.
É ele que te vende o amor e o coração.
A tua cidade e o teu sono.
E tu desejas acordar com um país erecto na boca.
Uma língua sorvendo as ruas da tua Europa.
Salivas, a tua língua. E a tua boca.
Já fizeste esta viagem várias vezes
E arrastas para ti outros braços.
Alugas quartos e cantas outros corpos.
Mas como poderias saber,
As árvores também nascem nas pedras áridas.
E que
Nem todas as sementes morrem
Na metamorfose dos ossos.
Uma,
Uma delas fecundou o teu peito.
E o cão canta preso às coisas tristes da janela sensível.
Na cidade que te alimentou a árvore.
As estrelas também morrem (pensas)
Como que, as querias apagar.
São putas.
São putas como tu que brilham no mais escuro da noite.
Que se dão ao prazer do fogo.
E tu querias ser unicamente estátua.
Agonia-te esta sensação de sentires tesão.
O cão canta dentro de ti.
Outros atravessaram o teu jardim inúmeras vezes.
Nunca os amaste.
Mas sempre soubeste a razão.
Por isso bebias o líquido espesso das suas bocas e alugavas o teu coração.
Fazias tudo isto porque o cão dentro de ti precisa de cantar.
E tu gostas dele.