É madrugada de um Verão.
Em pleno campo
Um homem e uma mulher
Deitados ao relento…
O silêncio da noite
Conduz a um estranho diálogo…
Homem:
- Diz-me que vês tu através da noite.
Os atalhos estão parados
As estradas vazias…
As estrelas brilham no céu
Que vês tu além disto?
Mulher:
- Nada, não vejo nada.
Sinto!
Sinto o perfume das flores
O silêncio da Terra
Respeitando o luto de céu.
O sono profundo das coisas singelas.
E no rosto, sinto o beijo da brisa
Perfumada e silenciosa…
Homem:
- Se sentes assim, eu também o deveria sentir!
Fecho os olhos e tento sentir
Mas tudo o que tu sentes
Eu só posso ver e ouvir
Porquê?
Mulher:
- Porque talvez a tua alma
Seja desconhecedora
Da sublimidade da Vida.
(a mulher colhe uma flor e acaricia o rosto do homem…)
Homem:
- Porque fazes isso?
Que me estás a querer dizer?
Mulher:
- Sentes a doçura das suas pétalas?
A ternura deste gesto?
É a beleza que te fala
Através de uma simples flor de gesto meu…
Homem:
- Deveria sentir?
Pois não o sinto.
O único gesto que sinto é o teu.
Não o da flor.
Não compreendo!
Mulher:
- Nem o compreenderás nunca!
Todo este sentir me vem da alma
Pois é através dela que eu me sinto.
A tua alma é diferente…
Enquanto eu sinto
Tu apenas vês e ouves…
(sorriu docemente…)
Os céus já clareiam.
Nas árvores, o chilrear das aves.
Ao longe…
O ranger das rodas
De uma carroça.
A vida a acontecer…
Manuela Fonseca