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"Doce silêncio"

 
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Corre-se dia e noite por enigmas gastronómicos do nosso apetitoso mundo,
Como se numa festividade nobre entrassem a todo o segundo,
Nos conventos de antigamente…
A fome e a importância do romântico belo presente,
A ironia e o burlesco de proclamar
A gula como pecado sobre um dos mais belos contos de encantar.
Clássicos curiosos deleitados pelos poderes do açúcar e da farinha,
Agradeceram aos céus a fórmula desenvolvida entre fé e prazer
Pelos dentes, pela língua, pelo sistema digestivo, à vida docinha,
Jubilando-se por um dos pecados mais doces acometer!
Gula e convento deviam ser opostos, inimigos de dogmas como sol e lua,
Os olhos, como em viagens por sonhos alindados,
Observaram e observaram, sem fim, a confecção a lhes agradar:
Bolos, doces, compotas e fins de refeição suscitados,
Actos como de teatro histórico de aprisionar a alma ao paladar!
O uno salão de jantar, patriótico e fabuloso, diante das brisas de revelação,
Ornamentado por conversas sumarentas, lorde de receitas divinas que fosse,
De toda a sua manteiga se pintava nos ovos e os ovos adoçavam o ego e o coração…
Puro gozo e puro deleite da arte que era ser amante de possuir algum doce
De formas sensuais, paladares lustrosos; canta-se alegria e devora-se um doce!

Silêncio rememora a ousadia de saborear qualquer coisa de superior,
Dir-se-ia um templo prudente, uma ala de lábios cosidos com casca de frutos
E mulheres de dedo na vertical sobre o tecido labial instando silêncio de carinhos enxutos.
Graciosas fogueiras aqueciam todos os presentes, sem esgrimir letras,
Aqueciam, brilhavam e actuavam soberbas, as fogueiras, ensinando os presentes
A contemplarem silêncio, serem silêncio, estarem quentes, no calor de silêncios quentes,
As fogueiras de uma jornada prolongada em descobertas e aperfeiçoamentos sociais.
As noites, festins de ternura e complacência, silenciosas,
Respeitantes ao carácter tranquilo do globo de silêncio em ditosas horas,
Eram visitas ideológicas por atingir melhor gosto sob ausências sonoras.

A passagem do tempo altera pouco vontades de gosto,
A massa da doçaria avivando a essência e a textura de vício, essa sorridente,
Simbolizaria todas as características do doce escolhido por ávida boca.
O doce é um apreço majestoso, criado ao nascer de um dia e adorado até ao sequente;
Por ter amantes concorrentes, se perde um pouco na memória, mas a boca,
Essa fonte inesgotável que dá e recebe prazer,
Não esquece o rosto, o beijo, o abraço, dos seus doces predilectos nem que ao alvorecer…
Vivam todos; caramelo, doce, aveludado aroma, cheiro açucarado, sumarentas gulodices!
Os doces são pecados que pecaminoso em si ferve, prazeres que folião em si excita,
São demónios e anjos sob moderação e excessiva adoração que tudo suscita…

O que é que foi ter um sonho e o que é que foi sonhar?
Tudo faz parte do sonho e faz tudo parte da realidade?
Não conseguir entender o que é diferente ao terminar,
Não conseguir entender o sabor dissemelhante da impassibilidade.
O doce sonhado é tão bom quanto o realizado,
Simplesmente pela presença da conquista, da consumação.
As barreiras da doçura na cozinha são as dos palcos de silêncio enclavinhado,
Em modelação, transparentes, frágeis, femininas, ameigadas, namoradas.
Relaxantes… acreditar piamente, que o silêncio ajuda a perceber as assaz realidades,
Tal-qualmente os doces propiciam à exaltação, desde os sentidos às verdades!

Poema que criei por convite de uma aluna para o seu livro como trabalho de final de curso sobre doçaria conventual.
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Enviado por Tópico
augustocola
Publicado: 31/03/2010 02:31  Atualizado: 31/03/2010 02:31
Da casa!
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 Re: "Doce silêncio"
E é no silêncio dos sentidos que se descobre que amar é pecado, mesmo que o sabor seja assim tão doce!
Abraço!
Augusto