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Pietá até ao seu enlevo

 
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Os olhares fáceis de quem é uma estátua a uma só voz,
As raízes por detrás, ela em relevo, com ele pelo ventre,
Numa noite amarelecida por algum axioma em, os delatores, vós,
Certos seus abraços, certos seus revirar de olhos, e sua cerimonial memória que entre…

Sua forma triangular, absorve a graça de uma dor de procriadora,
A segurar dentro das suas vestes um filho morto, recta ida,
Aplanam-se à idealista trajectória de um dia puro que se fora,
Os passos no seu coração morto, escultura varonil e sem vida…

Esculpida em mãos renascentistas, seu enlevo feminino,
Tenta chegar à sua mais espiritual face de carne, num fogo de reinado europeu,
No seu seio, sensação de formigante prazer pela espinha aberta, morre o filho divino,
Um leite rochoso, barulhos doces em que tudo apareceu…

O artístico corpóreo não é mármore, nem vidro, nem argila,
É figura a mascar o ascender da existência num soberano fado,
A lei do forte personagem esculpido, dupla ideia sob unida fila,
E um morto e um enlevado…

Pelas curvas, geometrias, astronomias e matemáticas, da face de Pietá,
Descobre-se quem é pervertidamente fundo,
A piedade que perdura, com o morto ao seu joelho, riso lhe dá,
Nunca a estátua se olhará, pensando que ali está a dor acesa no mundo…

Olha-se e descobre-se o enlevo que descarrega seu todo, na Virgem, na junção,
Das nuvens que se soltam pelo corpo da permeabilidade,
E então líquidos aprazíveis são as fendas da sua composição,
Fendas em enlevo, à composição dividida, a piedade, Senhores, piedade…

É uma fotografia tirada, no segundo em que um sino da Igreja mais alta,
No segundo da soma de ruínas marcantes,
Faz ouvir-se, inconscientemente, sob volumes pretos que lhe falta,
Pietá arreganha os dentes brancos na expectativa de ataques delirantes…

Pietá, virgem e sedutoramente pálida, com a falecida respiração a seu colo,
Aguarda uma chuva de carinho, melada e de fruta,
Para desfazer a sujidade dos poros e verificar a humidade do seu ornamentado solo,
Os seus ossos são banquetes reais, Reis são as palavras pelas quais a fotografia luta…

No meio da terra morta, da profundidade e largura para tapar o morto que a talha,
Pietá é a consorte da desgraça, sorte da estátua vetusta, dos delírios,
Se não chorámos, quando a vemos, é porque não calha,
O seu enlevo só chega na solidão, perto das larvas frias dos lírios…

Não seremos dignos de assistir ao divino espasmo, mesmo com a fotográfica voz,
Não teríamos piedade e voltaríamos pedra e mineral esculpidos para dentro de nós.
Pietá só ainda começou o seu assalto ao prazer, enlevo sem piedade, enlevo com Pietá!

Toc-toc, toc-toc… perdendo tempo em admiração que alguém nos dá,
Pum-pum, pum-pum… saltando de hora em hora em paisagem mística,
As suas saias épicas de exploração foram levantadas, aos poucos, pela margem artística…

Se há tardes fixas, em que qualquer coisa de incrível pode acontecer, então tal será já,
Pietá só ainda começou o seu assalto ao prazer, enlevo sem piedade, enlevo com Pietá!


Autor: Mosath
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Mosath
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Enviado por Tópico
augustocola
Publicado: 31/03/2010 02:25  Atualizado: 31/03/2010 02:25
Da casa!
Usuário desde: 22/07/2008
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Mensagens: 270
 Re: Pietá até ao seu enlevo
Que os olhos de mármore vejam as folhas de relva que um dia o tio Walt cantou.
Abraços!
Augusto