CRÔNICA POLICIAL

obrigado pela leitura e comentário, meu amigo. este poema foi feito em cima de um fato real, excluindo o bolero de ravel, usado apenas para efeito de rima. presenciei o episódio no tempo que, como repórter, cobria assuntos policiais.

abraço,

j.

amigo domingos,

do beijo da inevitável ninguém se livra.

abraço,

j.

irmãzinha querida,

à exceção do bolero de ravel, que inventei por causa da rima, este poema, infelizmente, foi inspirado num fato real, que vi faz muitos anos, quando era repórter de assuntos policiais. a noiva, uma moça bonita, matou-se pouco antes do casamento, envenenada. e o que mais chocou foi estar vestida de noiva.

beijo,

j.

é julio a vida tem destas tristes façanhas que nos marcam para sempre meu irmão.

caro henricabilio,

sim, a realidade, por mais dura que seja, dá azo à imaginação. quanto à rima, creio que véu e ravel, se falados, vão ter a mesma sonoridade, bem mais musical, deculpe amigo, do que o som infeliz de "alma minha", que saiu da pena do inigualável camões (maminha acha-se no açougue).porém, sou favorável não só à licença, como também a licenciosidade poética. se seguirmos os rigores a ferro e fogo, que quem os criou não é dono de nenhuma verdade, poesia seria um negócio muito chato. poesia pode tudo. até vinícius de moraes transformar "posto que", sinônimo na verdade de embora e não porque, em seu mais famoso soneto - Soneto de Fidelidade. bem que o dicionarista aurélio buarque de hollanda ferreira o advertiu a respeito. ao que vinícius respondeu: pode ser que você tenha razão, mas meu soneto está consagrado. aurélio acabou cedendo ou engolindo e aceitando posto quer como sinônimo de porque, prova que a língua evoluiu. no brasil, os modernistas de 1922 romperam com todo e qualquer purismo, a ponto de mário de andrade ter escrito: "eu escrevo brasileiro. si (sic) uso ortografia alterando o resultado, dá-me uma ortografia (v. Pauliceia Desvairada, prefácio interessantíssimo). talvez a sonoridade de véu e ravel pesasse um pouco no sul do brasil, onde as palavras terminadas em "el" são pronunciadas com o "ele" bem carregado elll...mais ou menos assim. telha e velha são rimas que não soam da mesma forma. pão ou pães, dizia guimarães rosa, é questão de opiniães.

abração,

j.

Ora, ora, Júlio!
Lancei apenas esta farpa para o provocar... rss
Bem sei que a sonoridade é muito similar.
E o poema é muito interessante, ainda mais tratando-se de um caso verídico.
Atrever-me-ia a dizer que a noiva com essa atitude, mostrou ter refinados dotes artísticos compondo um misto de poema e coreografia.
A ode triunfal!

Um abraçooo!
Abílio

no caso beijo e desejo também não caberiam. como também escrevo letras para canções, tenho mais preocupação com a sonoridade, com sonoridade. se eu usasse, numa canção, telha e velha produziria um som horrível - e ninguém perceberia rima. rima, para mim, é som. e o exemplo que dei é válido, porque não gosto que ponham música em meus poemas.prefiro colocar a letra na melodia pronta, como sempre faço. nem tudo que soa bem em música, soa bem em poesia. daí que poeta e letrista, embora no brasil tentem juntá-los,são coisas bem diferentes. há poetas que fazem letras de música, como era o caso de vinícius, mas nem todo letrista de música é poeta. poeta de livro é poeta de livro, letrista de música é letrista de música. o poeta, porém, se quiser e tiver bom ouvido, pode ser os dois. o letrista, se não conhecer poesia, jamais.

abração, meu amigo.

j.

alexandra,

desde que comecei a escrever poesia, quase sempre a concebi com base em fatos reais - ou que vi ou que me contaram. isto talvez seja decorrente da minha formação como jornalista. comecei cobrindo assuntos policiais. e isso me aproximou da morte, geralmente marcada por tragédias, como a que narro neste poema, que excetuando o bolero de ravel, nasceu de um fato real. como o dramaturgo e jornalista nelson escreveu, numa de suas máximas, e eu repito: "A reportagem policial me fez amigo íntimo da morte."

beijo,

j.

com base,julio...mas o o poema está já longe da base.e eu sei que não é só como jornalista que és amigo íntimo da morte.é também como poeta.

e eu,como amiga íntima da vida te volto a dizer:que é preciso dar a mão às duas (vida e morte) sem temer.não é assim tão dificil encarar a nossa própria morte.principalmente quando a vemos como uma fuga ao sofrimento.um fim.a paz final.difícil mesmo é a morte dos outros e a nossa vida com ela.mas faz parte.

isa,

por mais trágico que tenha sido o desfecho, com certeza este casamento ficará para sempre, embora ausente do sim de um dos nubentes. o sim embarcou no silêncio. talvez tenha este sido o sim mais verdadeiro - o que nem o noivo sequer ouviu.

beijo, flor.

j.

eu chamaria este poema, helen, de poema-reportagem. porque, usando da minha vivência jornalística,tentei transportar em versos um fato ocorrido, como, de maneira peculiar, fazem os poetas de cordel. neste caso, porém, nos doze versos que compõem o poema, tentei fazer aquilo que se chama, na linguagem jornalística, de lead. ou seja: responder, antes de narrar o fato por inteiro, toda a curiosidade do leitor. o lead, vindo do jornalismo norte-americano, mata em no máximo dez linhas - hoje, bem menos, cinco ou seis linhas - aquilo que o leitor quer saber: quem? quando? como? onde? por quê. isto respondido, o autor da matéria começa, aí sim, a contá-la em detalhes. quero salientar que o poema, excetuando a história de ravel, que usei apenas para efeito de rima e também florear um pouco, o fato realmente existiu. eu estive no local, vi a moça morta vestida de noite, envenenada no banheiro. anos depois foi que escrevi o poema, como lembrança do tempo em que andei pelo jornalismo policial.

beijo,

j.

meu irmão poeta,

de fato,como disse à helen, procurei valer-me da minha vivência como jornalista para escrever este poema sobre um fato que realmente existiu. você diz bem: o jornalista deve transmitir a emoção ao leitor, mas não se envolver, ou pelo menos não se deixar envolver pelo fato e suas personagens. não foram poucas vezes, no entanto, que chorei no banheiro das redações por onde passei. mas enquanto estava no local dos acontecimentos ou na minha mesa de trabalho tinha de ser o mais frio possível. é mais ou menos como a relação médico/paciente. se você deixar transparecer a emoção acaba louco ou mata de vez o paciente. durante dez anos da minha atividade jornalísttica respirava a morte todos os dias. e esta convivência no meio do macabro me fez íntimo de vítimas e assassinos. chegou um tempo em que ver um cadáver era o mesmo que ver uma caixa de fósforos. acho que só não perdi a sensiblidade - o que ocorreu com muitos colegas -, porque a poesia já fazia parte de mim bem antes - felizmente.

abraço,

j.

amigo grapilho,

se é pra sofrer, sou bem prático: que desabe tudo de uma vez só. o que tentei fazer neste poema foi transformar a realidade cruel numa literatura digestiva, porém não menos cruel. do contrário, estaria fugindo aos fatos, que, excluindo o bolero de ravel, usado para efeito de rima, foram reais.

abração,

j.

zé, meu irmão,

o fato existiu, com todas as tintas que narrei no poema, à exceção do bolero de ravel que aqui eu inventei. eu cobria assuntos policiais para o Diário da Noite, quando a tragédia se deu: a moça morta no banheiro me impressionou bastante: estava realmente vestido de noiva e se suicidou com veneno. o motivo não se sabe, porque, diziam os familiares, parecia feliz com o casamento. o motivo ela o levou para o túmulo. não disse sim ao noivo, mas disse sim à morte.

beijão,

j.

linda rosa,

concordo com tudo o que você disse acima. até porque acho certas cerimônias, como o casamento, ridículas, e já agora me dou o direito de não participar de nem uma - das que celebram a vida, das que celebram a morte. o caso deste poema foi feito, no entanto, em cima de um acontecimento real, tirando só o bolero de ravel, que coloquei no poema, para efeito de rima, mais nada. este poema foi baseado numa reportagem que escrevi, quando era repórter de assuntos policiais. a noiva suicidou-se de fato e foi encontrada no banheiro com seu vestido nupcial. ao contrário, porém, da maioria dos suicidas, não deu explicações do gesto. lembro-me que era linda. mais nada.

beijo.

j.