A Mão Desencapada
Por: Soaroir Maria de Campos
Julho 20/07
Não há nada mais seguro do que quando se está entre quatro paredes, pelo menos assim era antes da invasão da tecnologia em nossos dias que, em mãos de ignóbeis caçadores de sensacionalismo, se tornou armamento para a usurpação de direitos aos quais nenhuma convenção e ética podem mais proteger o cidadão, sequer em seu próprio banheiro.
Extravasar todas as necessidades reprimidas e despir-se de qualquer pudor, manifestar os mais recônditos sentimentos entre quatro paredes já não é mais privilégio de nenhum cidadão, especialmente quando além de cidadão o sujeito é parte do estabelecimento. No entanto, não justifica a invasão da privacidade praticada por assaltantes que como qualquer outro ladrão interno e externo das galés, e que a sociedade tanto condena, merece igualmente ser condenado.
Nossos costumes se depravaram, sem dúvida, e a sociedade não tolera mais nenhum gesto de descaso, especialmente em momento que requer especial deferência. Não diminuo a seriedade que a mímica maledicente e sorrateiramente fotografada sugeria, mas não vejo propósito na insistente divulgação de um desabafo feito em um recinto particular, privado e em um momento de extrema tensão pelo qual vive todo o país. Além de pôr mais lenha na fogueira das bruxas que andam soltas por aí, considero a divulgação daquela janela um insulto ao direito de expressão constituído a toda e qualquer pessoa, independentemente do cargo que ocupe. Diferentemente da ministra que se expressou através de um órgão público onde a censura não é livre, este outro partidário do gozo simplesmente reiterou com gestos e em sua intimidade, o conselho para a mesma pendenga. Não vejo por que o espanto... Já deveríamos estar acostumados a estas fuzarcas.
Por outro lado, penso que nada deve se assemelhar ao lamento de quem desejaria poder voltar o tempo, para evitar a excitação que a visão de sua janela causou em quem, sem medir conseqüências, devassa e divulga intimidades.
Isto posto, creio que é chegada a hora de cerrar as cortinas e, segundo a usança em nossas comédias, gozar e esquecer toda a pantomima, enquanto facécias para o próximo ato são preparadas, bem mais resguardadas do irreversível tempo.¨
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