Desde sempre, quero dizer, desde que comecei a ter autorização da minha mãe, sim a minha mãe, aquela mulher que nunca esquecerei e que não autorizo que toquem na sua memória, nem com um cabelo de seda, comecei a visitar tudo o que era possível visitar.
Gostava de fazer os meus passeios pelos campos ao chegar da primavera, as praias , as mais variadas no verão, e na minha Lisboa, visitei monumentos, museus,o Bairro Alto, principalmente a Rua do Diário de Noticias, não era o jornal não, era uma simples visita de estudo do corpo humano, para os mais jovens que não conheceram esta rua nos anos 50, tenho a dizer que lá havia de quê estudar a anatomia humana e principalmente feminina, (entre nós que ninguém nos ouve, havia cá umas bombas... de todas as cores!) nem queiram saber, o regime nessa altura, não sei porquê, creio por racismo, acabou com isso e digo por racismo, pois que por moral não, as meninas passaram a fazer o seu trabalho sem abrigo, eram as chamadas PSAF (putas sem abrigo fixo) pobres filhas, eram obrigadas a fumar o cachimbo mesmo à chuva, nem sempre nos carros, nem todos tinham esse meio de transporte, hoje todos temos, mas temos também as mensalidades a pagar e nem sempre conseguimos.
Cresci, os meus hábitos e as novas companhias mudaram, mas as minhas visitas continuaram.
Sou do signo do Aquário, logo sou por natureza um homem que não gosta das interdições. Sou um homem que adora a liberdade.
Se me dizem é proibido fazer isto ou aquilo, vou logo fazer o mais rapidamente possível.
Certo dia, numa das minhas passeatas pelo campo, vi à borda da estrada e junto a um portão, uma
pancarta que dizia o seguinte:
POMAR DE FRUTOS PROIBIDOS; ENTRADA NÃO AUTORIZADA
Ah, não?, olhei à minha esquerda, ninguém, olhei à minha direita, nem viva alma,
Nem olhei para mais nenhum lado a não ser a entrada para evitar de bater contra o muro.
E o que vi, meus amigos, um verdadeiro paraíso de frutos proibidos. Que delicia,. Esfreguei os olhos, belisquei-me, sim era verdade, não sonhava.
Frutos de todas as cores e feitios.. Não me fiz rogado e comecei logo a apalpar a acariciar uns belos marmelos e a comer o que estava mais perto, depois e para me refrescar, comi uma bela melancia,,
e enquanto houve lugar no meu estômago, comi tudo o que me aparecia pela frente e por trás.
Por ter comido tanto fruto proibido, quando dei por mim, estava no hospital.
O guarda do pomar encontrou-me prostrado ao lado de uma bela árvore, sem poder mexer nem um dedo, tanto eu estava empanturrado de pêras, de maçãs, de pêssegos, de ameixas, de marmelos de melancias, eu sei lá, tanta fruta à escolha, nem a pagar eu tinha comido tanta e boa!
A. da fonseca